O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi conduzido pela Polícia Federal nesta sexta-feira (4) para prestar esclarecimentos sobre suspeitas investigadas pela Operação Lava Jato, de que ele tenha recebido vantagens indevidas do esquema de desvios da Petrobras.
Segundo a Polícia Federal, há indícios de que Lula pode ter sido recebido vantagens indevidas, que beneficiaram o PT e seus parentes. O ex-presidente nega as suspeitas.
Essa é a 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia, em referência à expressão grega busca da verdade.
Caminho do dinheiro, segundo o MPF
Segundo as investigações, Lula teria recebido dinheiro por meio do pecuarista José Carlos Bumlai e de empreiteiras investigadas pela Lava Jato.
Segundo o MPF, pagamentos feitos pelas empreiteiras ocorreram por meio de doações e palestras a duas empresas de Lula.
O dinheiro repassado ao Instituto Lula e à LILS Palestras pelas empreiteiras, R$ 30 milhões, teria sido usado para abastecer o PT e parentes do ex-presidente.
Além disso, a OAS e a Odebrecht pagaram pela reforma de um apartamento triplex e de um sítio em Atibaia, entrega de móveis de luxo nos dois imóveis e armazenagem de bens por transportadora.
“A suspeita é de que a reforma e os móveis constituem propinas decorrentes do favorecimento ilícito da OAS no esquema da Petrobras”, dizem os procuradores.
Segundo a PF, Lula “era o responsável final pela decisão de quem seriam os diretores da Petrobras e foi um dos principais beneficiários dos delitos” e “surgiram evidências de que os crimes o enriqueceram e financiaram campanhas eleitorais e o caixa de sua agremiação política”.
Lula nega todas as suspeitas e também diz não ser dono dos imóveis.
Montantes repassados, segundo o MPF:
2014 – Triplex no Guarujá
– pelo menos R$ 1 milhão sem aparente justificativa econômica lícita da OAS, por meio de reformas e móveis de luxo implantados no apartamento tipo triplex, número 164-A, do Condomínio Solaris, em Guarujá
– deste total, R$ 750 mil foram em reformas e R$ 320 mil em móveis de luxo para a cozinha e dormitórios
Segundo o MPF, “embora o ex-presidente tenha alegado que o apartamento não é seu, por estar em nome da empreiteira, várias provas dizem o contrário, como depoimentos de zelador, porteira, síndico, dois engenheiros da OAS, bem como dirigentes e empregado da empresa contratada para a reforma, os quais apontam o envolvimento de seu núcleo familiar em visitas e tratativas sobre a reforma do apartamento”.
2010 – Sítio em Atibaia
– R$ 1.539.200 na compra do sítio por terceiros, sendo R$ 770 mil em reformas pagas por Bumlai, OAS e Odebrecht
Segundo o MPF, os donos do sítio Jonas Suassuna e Fernando Bittar “são sócios de Fábio Luís Lula da Silva (filho de Lula) como foram representados na compra por Roberto Teixeira, notoriamente vinculado ao ex-presidente Lula e responsável por minutar as escrituras e recolher as assinaturas”.
2011 – Armazenamento de bens
– R$ 1,3 milhão pela empresa OAS para a armazenagem de itens retirados do Palácio do Planalto quando do fim do mandato, em contrato assinado pela empreiteira
Segundo o MPF, o contrato foi dissimulado para esconder seu real objetivo e assinado pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto.
2011 a 2014 – Instituto Lula e da LILS Palestras
– R$ 20 milhões em doações ao Instituto
– R$ 10 milhões em pagamento de palestras à LILS Palestras
Segundo o MPF, 47% das palestras foram pagas por empreiteiras investigadas na Lava Jato: Camargo Correa, OAS, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e UTC. E 60% dos recursos do instituto também vieram dessas empresas.
O montante seria repassado ao PT e parentes do ex-presidente. A PF investiga se as palestras e serviços foram prestados.
Condução coercitiva
Segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, “nesse momento, as investigações não são conclusivas ao ponto de pedir a prisão”. Mas ele afirma haver “indícios fortes” de “vantagens indevidas” em nome do ex-presidente, por isso, Lula foi encaminhado a prestar esclarecimentos.
“Era necessário ouvi-lo. O MPF tem uma investigação, necessitava ouvir o ex-presidente. Não havia como não fazer a oitiva. Se tivéssemos ter marcado com antecedência, teríamos um risco maior de segurança”, disse Lima.
Operação
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, também foi alvo de mandado de condução coercitiva. A PF também cumpre mandados de busca e apreensão na casa do ex-presidente Lula, na casa e empresa dos filhos dele e no sítio que era constantemente frequentado por Lula, em Atibaia.
O que diz o PT
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, divulgou vídeo no Facebook no qual classificou a operação da Polícia Federal na casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “política” e “espetáculo midiático”. Ele ainda pediu que a militância do partido saia em defesa de Lula.
Em nota, o Instituto Lula afirmou nesta sexta que a ação da Polícia Federal que realizou buscas na casa do ex-presidente e a condução coercitiva foi “arbitrária, ilegal e injustificável”.
Fonte: G1