Em seu segundo depoimento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis irregularidades nas obras da Copa do Mundo de 2014, o ex-secretário da Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo), Maurício Guimarães, revelou que o governo estadual contratou o Consórcio VLT sem a dotação financeira necessária para garantir a conclusão da obra. Ou seja, na época a gestão Silval Barbosa (PMDB) não possuía recursos para executar o VLT.
O presidente da CPI, deputado Oscar Bezerra (PSB) disse que o levantamento feito pela comissão aponta que o governo tinha orçamento para implantar o BRT e não o VLT. Isso porque o valor disponível era de R$ 384 milhões. Já o custo total do VLT seria de R$ 1,4 bilhão. Para justificar a irresponsabilidade administrativa, Maurício Guimarães argumentou que, naquele momento, o Estado já tinha a aprovação da Caixa Econômica Federal (CEF) para a liberação do restante do recurso para executar o VLT.
Sobre os aditivos no contrato com o Consórcio VLT Cuiabá, tendo em vista que a obra foi licitada pelo Regime Diferenciado de Contratação (RDC), o qual não permite esta prática, o ex-secretário declarou que somente foi utilizado no prazo para conclusão da obra e não no valor.
“Mais uma vez o ex-secretário não explicou nada. Os indícios de irregularidades são muitos e a CPI pode pedir a prisão de Maurício Guimarães e de todos os responsáveis pelas irregularidades nas obras em seu relatório final”, frisou Bezerra. A CPI das Obras da Copa deve ser concluída no mês de maio.
A exemplo do primeiro depoimento onde Maurício Guimarães falou sobre as obras da Arena Pantanal, o clima também foi tenso nessa segunda oitiva. O deputado Wilson Santos (PSDB), líder do governo Pedro Taques (PSDB) na Assembleia Legislativa, disse que o processo de escolha do modal VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), em substituição ao BRT, ocorrido no governo Silval Barbosa, deverá comprovar o maior escândalo de desvio de dinheiro público da história de Mato Grosso.
“Havia um relatório técnico no Ministério das Cidades, que foi alterado, garantindo que o ideal para a cidade era o BRT. Tinha nota técnica condenando o VLT. Nenhum representante do Departamento de Engenharia Civil da UFMT foi consultado”, pontuou o deputado. Sugeriu ainda possível omissão por parte de comissão do Poder Legislativo, formada por 11 parlamentares à época, responsável pelo acompanhamento das obras da Copa.
O deputado observou que no conjunto do processo para aquisição do item “vagões”, há apontamentos de pagamento a maior de R$ 88 milhões. “Pode-se dizer que no item vagões encontrou-se meio de assegurar propina para pagar alguém. E tudo isso começou com a falta de planejamento”.
Já Oscar Bezerra não descartou convocar novamente Guimarães para depor sobre as obras de mobilidade urbana. Depois de concluir os depoimentos do ex-secretário, a CPI vai convocar o ex-governador Silval Barbosa, que está preso no Centro de Custódia de Cuiabá acusado de liderar uma suposta quadrilha que cobrava propina para conceder incentivos fiscais.