Uma pesquisa brasileira que mostra o vírus da zika atacando células de neurônios humanos foi publicada na revista científica Science. O estudo ajuda na explicação do elo entre a zika e o surto de casos de microcefalia e lesões neurológicas em bebês –já são mais de mil no Brasil.
Células humanas responsáveis pelo desenvolvimento do cérebro foram infectadas pelo vírus em laboratório e acabaram morrendo. O resultado não se repetiu quando essas células foram expostas ao vírus da dengue, houve infecção mas não a morte das estruturas.
O estudo, que envolveu dez cientistas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), traça um caminho para experiências com remédios que possam evitar lesões neurológicas.
“Queremos tentar descobrir um tratamento. Esse modelo permite colocarmos medicamentos nessa cultura”, explica Stevens Rehen, um dos coordenadores da pesquisa, que prevê que em 30 dias tenha resultados preliminares sobre alguma substância que possa impedir a infecção ou reduzir os efeitos do vírus da zika nas células do cérebro.
Como foi feito o estudo
O estudo, coordenado por Rehen e Patrícia Garcez, foi feito em um laboratório de estruturas que lembram vagamente os primórdios embrionários do cérebro. Nele, foram colocados juntos o vírus da zika da linhagem africana com células neurais e com minicérebros –estruturas com organização espacial e variedade de células que lembram o cérebro humano.
O resultado foram células mortas ou com desenvolvimento seriamente comprometido. “Nosso estudo simula o que deve ocorrer com a infecção pelo vírus nos dois primeiros meses de gravidez”, explica o neurocientista.
Rapidez de resposta
Os brasileiros já tinham apresentado os primeiros resultados da pesquisa em março, como parte do esforço mundial pedido pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para que estudos científicos fossem compartilhados com rapidez para agilizar a resposta contra a epidemia de zika –considerada emergência mundial em fevereiro.
“Essa experiência está mudando a forma como pensamos a ciência. Começamos a trabalhar no Carnaval e em um mês tínhamos um bom resultado. É um tempo recorde.” Rehen conta que a rapidez foi possível pela estrutura laboratorial já existente e investimentos em pesquisas nos últimos anos para, entre outras coisas, criar os minicérebros.
Preocupado, o neurocientista aponta a urgência de investimentos em pesquisa para garantir tratamentos para a epidemia de zika o mais rápido possível. “Esse é o momento de mostrarmos a necessidade de investimentos em ciência porque só assim é possível ter resposta rápida em um momento de emergência.”