A democracia pode ser a melhor forma de Governo já experimentada, mas é uma porcaria. Somente o nosso convencimento da impossibilidade de haver alternativa melhor a mantém de pé.
Presos aos chavões que a sustentam “poder que emana do povo”, “Governo do povo, para o povo e pelo povo” etc., deixamos de questioná-la.
Na Grécia, onde foi inventada, ela conseguiu a proeza de quebrar o país com disputas entre classes e ainda exportar problemas para toda a Europa.
A França, convicta democrata, está convulsionada por protestos e greves, tentando retirar benefícios sociais dados por parlamentares sem sustentação financeira.
Aqui no Brasil, além dos gravíssimos problemas políticos, surgiu a nova moda de adolescentes ocuparem escolas públicas em nome dos direitos democráticos.
Pior, professores ideológicos, pais ignorantes e partidos irresponsáveis aplaudem as ações.
Ela (a democracia) começa errado quando nos permite eleger governantes e parlamentares, mesmo sabendo que não temos a mínima condição de fazê-lo.
Na verdade, votamos em amigos, parentes e conhecidos com quem nunca faríamos uma sociedade por falta de confiança, ou a quem não daríamos emprego em nossas empresas, pela sabida incapacidade ou indolência.
A atual crise brasileira mostra a contradição da democracia. Uma presidente eleita e depois reeleita à custa de benefícios sociais irresponsáveis e promessas mentirosas, quebrou a Nação para conseguir votos necessários à manutenção do poder.
No segundo mandato, quando quis redimir-se da burrada que fizera, tentou consertar a cagada, propondo entre outras coisas assumir o déficit fiscal, rediscutir a Previdência e ressuscitar a CPMF.
Aí, deputados e senadores, representantes da tal democracia, não lhe permitiram a tentativa de reparar o erro. Foram contra as propostas dela, atrasando em mais de um ano o início da recuperação do país.
Afirmaram que, a essa altura, ela não tinha mais condições de governar, e é verdade. Mas não tinha porque não lhe deram.
O que o Temer está fazendo agora, que é lícito, necessário e urgente, ela tentou fazer lá atrás, mas não teve apoio do Congresso.
Frustrada, chamou a todos de traidores e inimigos da pátria, recusando-se a renunciar ao poder, gesto que poderia lenir os transtornos que nos afligem.
Agora a história se repete, só que invertida.
Os partidos que perderam o poder junto com a presidente e que condenavam os adversários, chamando-os de traidores da Pátria por não aprovarem o plano de austeridade, juntam-se para garantir o fracasso do mesmo plano que defendiam.
Os parlamentares que negaram apoio ao plano da Dilma, agora na situação, estão apresentando à nação outro muito semelhante e rotulando de traidores os atuais adversários que o combatem.
Afinal, quem são os traidores? a) A Dilma, que, sabendo do mal que causava à nação, recusou teimosamente a largar o osso?; b) Os políticos oposicionistas na época (PSDB, DEM…) que podiam abreviar a crise apoiando o plano de recuperação?; c) Os atuais adversários (PT, PCdoB…) inimigos declarados das medidas que defendiam?
Pode ser que a democracia seja boa, mas não temos ainda, nessa fase do processo civilizador, condições de usufruir de seus possíveis méritos. Por enquanto, o que se vê é uma turma tentando governar e outra fazendo o impossível para impedir.
Deve haver alguma coisa que possa melhorá-la ou substitui-la.
O incrível progresso da ciência que atesta a inteligência humana contrasta com inércia da política, aparentemente satisfeita com os resultados que apresenta.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.