Para quem não conhece, aí vai o atemporal “Sermão do Bom Ladrão”, escrito em 1655, em Portugal, pelo padre Antônio Vieira.
Fundamentado na “A arte de roubar”, atento, padre Antônio Vieira questionava em consonância com a sua vivência cotidiana os desmandos reais, não se fazendo de arrogado proferiu inflamado discurso na Igreja da Misericórdia em Lisboa, mostrando ao povo português como funcionava a roubalheira no Brasil-Colônia.
Não se contendo, em seu discurso mostrou como o dinheiro mandado para gerir a administração pública no Brasil-colônia era manipulado, sejam para quem tinham concessões para lavras de ouro, concessão para comercialização de escravos, gestores, administradores, intermediários gentes da corte, fossem quem fosse todos roubavam na terra de Cabral.
Indignado com escândalos no governo, riquezas ilícitas, venalidades de gestões, fraudulentas e, desproporcionalidade das punições, com a exceção óbvia dos mandatários. Padre Vieira, usou o púlpito como arauto das aspirações públicas, a guisa de uma imprensa ou de uma tribuna política, para advertir os reis quanto ao pecado da corrupção passivo-ativa, pela cumplicidade do silêncio permissivo.
Observa-se em lance profético mostrando o seu profundo entendimento sobre a problemáticas brasileiras – ele ataca e critica aqueles que se valiam da máquina pública para enriquecer ilicitamente.
O interessante nesse contexto é Padre Vieira, apresenta uma visão crítica sobre o comportamento imoral da nobreza à época, igualmente ao que ocorre hoje no Brasil, não é mesmo? Portanto literalmente atemporal.
Como dizia o Padre Vieira, “levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei.
Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é reis levando consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno”, concisa, não?
Nesse sermão, Padre Vieira faz um diagnóstico, desnudando os desmandos e a mistura dos interesses públicos e privados que infestavam e infestam à administração pública brasileira desde o início de sua colonização do país.
Ao aplicar a lei aos corruptos, a Suprema Corte brasileira demonstra que não tolera mais esse embasamento cruel a coisas públicas e com a dignidade humana.
Com maestria, ministros procuram eliminar esse asqueroso mal que mancha nossa cidadania, nossa honra e nossa dignidade entranhada por vivaldinos, queira Deus que tenha um fim!
“Conforme pontua o ministro Celso de Melo, da Suprema Corte do país, “o Estado brasileiro não tolera o poder que corrompe e nem tolera o poder que se deixa corromper”.
Oremos juntos para que os senhores ministros da Suprema Corte não cambaleiem nessa árdua empreitada em busca da decência e da justiça social, fartamente citada por vossas excelências quando da condenação dos bandidos do mensalão, petróleo, que usurparam a dignidade humana e as instituições públicas brasileiras.
ROMILDO GONÇALVES é biólogo, professor pesquisador em Ciências Naturais da UFMT/Seduc, doutorando em Agricultura Tropical.