"> Discurso esquecido – CanalMT

Discurso esquecido

Crise econômica sempre se fez presente na história do país. A atual, claro, não é sequência da anterior, e nem esta das que, há muito, já se foram. Ainda que existam pontos em comuns entre elas, e mesmo que tenham sido ocasionadas por iguais erros.

Erros agravados pela ausência de planejamento e da seriedade com o negócio público. Este, infelizmente, foi e é tido como extensão do privado. Utilizado, inclusive, em campanha eleitoral, na conquista de votos ou, antes, na obtenção de doações.

Campanha em que as situações de riscos da administração pública não são discutidas como deveriam sê-los.

Não são em razão da maquiagem por quem se encontra à frente do governo. Aliás, a presidente Dilma maquiou as contas públicas valendo-se das chamadas pedaladas fiscais. Hoje se sabe de um déficit de R$ 170,5 bilhões.

Déficit que escancara os desacertos e as acrobacias com os dados. Isto deixa bem claro que a atual crise econômica brasileira não é fruto da crise internacional, ainda que esta a tenha agravada, assim como também a agravou o enorme rombo da Petrobrás.

Por outro lado, o déficit levou o presidente interino, Michel Temer, a apresentar um projeto que limita os gastos públicos. Iniciativa bastante louvável e, sem dúvida, elogiável.

Mas, no dia 1º. deste mês, contrariando completamente o seu próprio discurso, patrocinou a aprovação por parte da Câmara Federal de um megapacote de reajustes salariais e benefícios para corporações de servidores.

São bondades que contemplam 38 carreiras do Estado, e devem ser estendidas a outras esferas, a exemplo do aumento salarial dos integrantes do Supremo Tribunal Federal.

Este aumento se estenderá aos demais tribunais, inclusive aos regionais, bem como ao Legislativo federal, estadual e municipal. É o chamado efeito cascata.

As tais bondades, reunidas em 14 projetos, foram aprovadas por 334 deputados federais. Bondades que serão financiadas pelo déficit público. Serão o equivalente a 58 bilhões até 2019.

Mas, em uma avaliação mais realista, há quem diga que os custos dessas bondades ultrapassarão a 100 bilhões em 4 anos (muito triste).

Parece, então, que o país não está em crise coisíssima nenhuma! (Pode, caros leitores!) Tudo isso é trágico, para não se dizer outra coisa, a qual demandaria mais espaços.

Além disso, os parlamentares aprovaram, em primeiro turno, a emenda constitucional da DRU. O que autoriza o governo a utilizar como quiser 30% de todas as verbas que a Constituição Federal obriga a aplicar em áreas específicas.

É bom lembrar que a dita emenda foi encaminhada pela presidente Dilma. Mas a presidente afastada não conseguiu o número de votos suficientes.

Diferentemente, agora, do presidente interino, que mexeu os pauzinhos na Câmara Federal, movimentando sua base, e, assim, a fez aprová-la.

Diante disso, cabe uma pequena observação: o presidente interino esquece facilmente seu discurso, além de ignorar a situação complicada das contas públicas e do quadro econômico do país.

É isto.

LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.

lou.alves@uol.com.br


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