A consciência ambiental está cada dia mais evidente nas ferrovias brasileiras. Os trilhos ecológicos passam a ganhar espaço em nossa rede ferroviária.
Além dos dormentes de concreto, utilizados por exemplo na Ferrovia São Paulo – Cuiabá, notadamente, no trecho entre Rubinéia (SP) – Aparecida do Taboado (MS) – Chapadão do Sul (MS) – Alto Taquari (MT) – Alto Araguaia (MT) – Itiquira (MT) – Rondonópolis (MT), estão sendo empregados, também, a madeira plástica nos novos traçados.
Trata-se de um produto composto de matéria-prima totalmente proveniente do lixo plástico reciclado, além de não conter nenhuma substância tóxica das encontradas na madeira tratada e pode ser novamente reciclada.
É o que acontece com esses dormentes, sim! Depois de retirados do local onde foram aplicados, podem ser desmanchados e servirem de base para novos produtos, formando um ciclo que contribui ostensivamente com a preservação do meio ambiente.
O Brasil possui cerca de 30 mil quilômetros de ferrovias, espalhados por 22 dos 26 Estados, incluindo o Distrito Federal. O País possui, ainda, ligações ferroviárias com a Argentina, Bolívia e Uruguai.
A maior parte dessa extensão foi feita com trilhos provenientes de madeira oriunda de árvores, muitas delas desmatadas.
A ideia agora, é que o transporte ferroviário seja ecologicamente correto de ponta a ponta. Nas locomotivas elétricas e nos trilhos ecológicos.
Por isso, a Unic (União Internacional de Ferrovias – Union International Chemins Ferre) tem promovido apitaços e outras manifestações de ferrovias e ferroviários em favor desse modo de transporte e de seu desenvolvimento a partir de critérios que preservem o meio ambiente.
De acordo com a empresa “Wisewood Soluções Ecológicas” – cujo parque fabril está localizado no Distrito Industrial Alfredo Rela, na cidade de Itatiba (SP) – as vantagens do uso destes dormentes estão na alta durabilidade (vida útil mínima de 50 anos), imunidade às pragas, não soltar farpas, não absorver umidade, ser fácil de limpar, resistentes a corrosão, baixo custo de manutenção, poder ser trabalhada com as mesmas ferramentas usadas na madeira natural, poder ser furado, serrado e aparafusado, aceitar pregos e parafusos, bem como fixação utilizando processos de colagem.
É uma iniciativa forte para diminuir o desmatamento predatório de nossas florestas, já que precisamos de muitas árvores para construir poucos dormentes.
Se é importante observarmos critérios ecológicos em sua construção, na manutenção é clara a vantagem dos trens. Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Logística e Supply Chain (IIos), os trens de carga emitem 70% menos dióxido de carbono (CO2) e 66% menos monóxido de carbono (CO) do que os caminhões.
Um dos maiores feitos da engenharia mundial foi inaugurado semanas atrás. O túnel ferroviário de São Gotardo, o mais longo do mundo, com 57 km, que permitirá descongestionar e aumentar o tráfego entre o norte e o sul da Europa.
Mas os chineses não querem deixar isso barato. Já que existe um projeto na China ainda mais ambicioso: perfurar um túnel de 123 km sob o Mar de Bohai.
No Brasil, ainda não criamos a consciência política da importância da ferrovia como meio de transporte ecologicamente correto.
Um exemplo, é a ferrovia São Paulo – Cuiabá, hoje nas mãos da empresa ALL (América Latina Logística) denominada Ferrovia Senador Vuolo, em homenagem ao ex-senador, idealizador do projeto, apresentado no Congresso Nacional em 1976.
Ainda não chegou a capital mato-grossense. Pasmem! São 40 anos de espera. Foram construídos nesse período, apenas 800 km de trilhos no trecho entre a divisa de São Paulo até Rondonópolis.
Faltam apenas cerca de 200 km para chegar a Cuiabá, maior PIB e parque industrial do Estado.
Num país de dimensões continentais como o nosso, a ferrovia deveria ser prioridade. Mas, não é! Teimamos em aplicar o modelo econômico perverso do asfalto, dependente do petróleo, que incentiva o caminhão, o frete mais caro, da poluição desenfreada e do trânsito assassino.
No mundo inteiro, as ferrovias estão despontando. Será que vamos perder mais uma vez essa onda? Ou esse bonde?
VICENTE VUOLO é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.
vicente.vuolo10@gmail.com