No Brasil, o eleitor não liga muito para saneamento básico.
Saúde, Educação, Segurança, corrupção chamam a atenção, mas saneamento praticamente não faz parte da lista de reivindicações da maior parte da sociedade.
Talvez seja por isso que Cuiabá e Várzea Grande estão na rabeira nesse quesito.
Entre as 100 mais populosas cidades do país, Cuiabá ocupa a posição 70 e Várzea Grande a de 83.
Cuiabá coleta 36% de esgoto e trata 29%. Várzea Grande coleta 17% e trata 15%. Cuiabá é a pior capital do Centro Oeste em saneamento.
Apenas para não perder o costume, volta-se mais uma vez a duas cidades que, em população, são quase iguais às de Cuiabá e Várzea Grande. Franca tem 100% de saneamento e trata 98.8%.
Primeiro lugar no país. Ribeirão Preto tem 97.7% de esgoto e trata 93.6%. É o décimo do Brasil em saneamento.
Na verdade, são exceções, porque a média nacional é de índices baixos em coleta e tratamento, mostra o Instituto Trata Brasil.
Não há quase pressão do eleitor sobre o assunto.
Mas Cuiabá e Várzea Grande quase saíram daqueles números baixos em saneamento.
Primeiro, foi o BID-Pantanal. Seriam 400 milhões de dólares, metade para MT e outra para o MS. Seriam aplicados em cidades que margeiam rios que pudessem poluir o Pantanal. Casos da capital e VG.
Seriam uns 700 milhões de reais ou um Fethab inteirinho para saneamento. Já estava aprovado pelo Senado em 2001, mas tudo morreu em 2003. Não era empréstimo, era a fundo perdido, com pequena contrapartida do Estado.
Mais tarde, em 2009, veio o PAC saneamento para cidades com mais de 200 mil habitantes.
Outra vez, as duas maiores cidades do estado foram contempladas, Cuiabá com 300 milhões e VG com 150 milhões de reais.
Daqui a pouco, explode a Operação Pacenas, aquela em que empreiteiros foram flagrados dividindo o butim.
Brasília segurou o dinheiro que seria usado para saneamento.
Corumbá, em Mato Grosso do Sul, mesmo sem ter 200 mil habitantes, foi contemplada com aquele PAC porque margeia o Pantanal. Fizeram uma revolução em saneamento lá.
Nós aqui ficamos chupando dedos. Tem-se um novo governo em Brasília. Será que não daria para tentar reaver o BID Pantanal e o PAC saneamento?
Se juntar os governos dos dois Mato Grosso, mais as bancadas federais, não daria para conversar sobre isso outra vez?
São seis senadores e a votação do impeachment precisa deles. Negociam-se tanto atos não republicanos em troca do voto, por que não para saneamento?
Talvez não dê o PAC para Cuiabá por causa da CAB. Não se vai por dinheiro público para a iniciativa privada ganhar dinheiro, mas pelo menos o PAC para VG. E o BID para as duas.
Saneamento ajuda na saúde da população. Se gasta menos com doenças. Ajuda o meio ambiente e por consequência o turismo.
Seria um enorme presente para os 300 anos de Cuiabá se viessem recursos para o saneamento, não?
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.
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