Cansadas dos assassinatos e sequestros que se tornaram rotina em sua pequena cidade indígena na região central do México, as mulheres de Cherán se uniram para combater o crime organizado e defender as florestas da região de madeireiros armados. Elas organizaram um grande motim, que contou com o apoio de toda a população local, e expulsaram os criminosos, políticos e policiais do vilarejo.
Diferente de outras partes do México, o crime organizado na região de Cherán era dominado por madeireiros, que controlam a indústria da região. Segundo a emissora britânica BBC, os cartéis também extorquiam pequenos comerciantes locais e organizavam sequestros e assassinatos.
Em 2011, os madeireiros começaram a desmatar áreas próximas a nascente que fornece água para a cidade. Com medo de que a exploração prejudicasse ainda mais o ecossistema local e acabasse com a água de Cherán, um grupo de mulheres se uniu e tentou dialogar com os madeireiros. Elas foram verbalmente agredidas e perseguidas pelos homens armados, mas não desistiram e decidiram confrontar os criminosos na cidade, com a ajuda de seus vizinhos.
Em abril de 2011 começou o chamado “levantamiento de Cherán”, ou levante, em português. Liderados pelas mulheres, os moradores bloquearam a estrada que dava passagem da floresta à cidade e fizeram alguns dos madeireiros como reféns. “Todos corriam pelas ruas com suas facas nas mãos”, contou a moradora Melissa Fabian à BBC. “As mulheres estavam correndo para cima e para baixo com o rosto coberto. Você podia ouvir as pessoas gritando e os sinos tocando sem parar”, relatou.
Após muita confusão, a polícia municipal, junto com o prefeito e alguns homens armados do cartel, tentou resgatar os reféns. Houve confronto entre os moradores, os policiais e os madeireiros, que só terminou após um jovem atirar um rojão em dois madeireiros que ficaram feridos e a população ser declarada vencedora.
A polícia e os políticos locais foram rapidamente expulsos da cidade porque havia denúncias de que eles estariam conspirando com a rede criminosa. Os partidos políticos também foram dissolvidos e cada bairro da cidade elegeu representantes para compor um comitê municipal. “Lembrar daquele dia me dá vontade de chorar”, recorda Margarita Elvira Romero, uma das mulheres que organizaram o levante. “Foi como um filme de terror, mas foi a melhor coisa que poderíamos ter feito”, contou à BBC sobre o levante.
Hoje, a cidade de 20.000 habitantes conta com uma organização e policiamento popular. Cherán ainda recebe recursos estaduais e federais, mas sua autonomia como uma comunidade de índios Purepecha é reconhecida e garantida pelo governo mexicano. O banimento dos partidos políticos foi aceito pela Justiça mexicana, que confirmou seu direito de não participar de eleições locais, estatais ou federais, e os números de homicídios, assaltos e sequestros diminuíram muito.