Faleceu no último dia 25, segunda-feira, um grande mato-grossense, José Salvador de Arruda Santos, carinhosamente chamado de Zezinho Santos.
A maioria não conhece a sua história, o seu legado como político. Conforme a imprensa noticiou, sua trajetória de vida parece estar ligada somente ao Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso, onde foi presidente e vice-presidente da Corte de Contas em dois mandatos alternados. Aliás, com uma conduta exemplar, de probidade no zelo pelo erário, tendo inclusive, se recusado a receber uma homenagem do Tribunal sob a alegação de que não merecia, pois, a sua postura ética não era mais que obrigação sua, um funcionário público pago pelo contribuinte.
Mas, o seu passado como prefeito da cidade de Poconé – tradicional município do Estado – como líder político, como um estudioso na área ambiental, especialmente do pantanal mato-grossense, merece uma análise, uma reflexão, de que vale a pena sim, fazer uma política honesta, sadia, cheia de ideal. Hoje, lamentavelmente, a educação política parece não fazer parte do aprendizado da maioria da classe política.
Eu conheci Zezinho Santos no início da década de 1970. Ele prefeito e eu, com pouco mais de uma década de existência. Fui com meu pai (então Deputado Estadual) para uma inauguração e palestra. Foi a minha primeira viagem de avião, num monomotor teco-teco, que sempre oscilava com o vento. Emocionante! Já na palestra, percebi que algo de diferente aquele senhor carregava, além de bom cristão.
Ele tinha o dom da oratória, a visão do futuro, a preocupação com questão ambiental, o amor a sua cidade a ao seu Estado. Em outras palavras, a preocupação com os menos favorecidos foi a sua vida: ajudar a pobreza em todos os momentos.
O resultado dessa qualificação e educação política, foi a transformação que Poconé experimentou durante sua gestão. Foi com Zezinho Santos que foram resolvidos dois dos principais problemas que marcaram o atraso da cidade durante mais de 100 anos: a chegada do asfalto e da energia elétrica. Levou escolas para a zona rural, modernizou e urbanizou a praça principal, onde está localizada a belíssima Catedral. Por sinal, essa Catedral que ele deu tantos sermões, onde foi velado o corpo com mais de 500 pessoas presentes, o que demonstra o carinho e o respeito que sempre teve do povo poconeano.
A grandeza de Zezinho Santos está na sua coragem, vontade de servir, competência em administrar.
“Navegar é preciso, viver não é preciso” A frase lusitana enaltece a coragem portuguesa pela navegação transoceânica, pois foram os primeiros ocidentais a fazê-la, com coragem, vontade e técnicas desenvolvidas na Escola de Sagres.
Em Portugal, no Castelo de Tomar (Convento de Tomar), doado por D. Afonso Henriques aos Templários em 1159, formaram-se navegadores, conhecedores de técnicas de navegação e estrategistas. Sabiam os dirigentes portugueses, do nascente estado, que era necessário formar-se os homens do futuro de glória de Portugal.
É necessário formar-se. Também os políticos. Com os mesmos critérios que formamos médicos, administradores, engenheiros. Se queremos bons dirigentes, precisamos investir em sua formação. Na França, em 1945, criou-se a Escola Nacional de Administração. A mais prestigiosa instituição de ensino de formação da elite do funcionalismo. Queria-se selecionar os melhores e criar-se uma cultura de serviço público baseada na qualidade e na ética.
Para formar um político não é necessário uma escola, aprisionada por quatro paredes ou por currículo que produza diploma e certificação. É fundamental, no entanto, ter-se uma cultura política que hegemonize a sociedade a partir do estabelecimento de padrões de conduta (moral) e de valores sociais (ética). Um político (homem ou mulher) precisa, contudo, ser formado. É ao longo de uma série de experiências de vida, no processo em que é esculpida a personalidade, a liderança política vai se construindo.
Precisamos formar nossos políticos. Trazer às escolas disciplinas que ajudem os jovens a pensar e refletir sobre os problemas da sociedade, induzir debates, estimular o encontro de soluções, sempre matizadas pelos valores da democracia e do convívio social.
Fica o exemplo, a figura grandiosa de Zezinho Santos. Que a sua memória nos indique o bom caminho, a nós mato-grossenses que queremos bem a essa terra.
Vicente Vuolo é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.