O evoluir para uma sociedade mais igualitária, e com maior diálogo sobre gênero, perpassa a compreensão do que é almejado para o futuro. Se a intenção é deixar preconceitos para tempos remotos, a reflexão é de extrema necessidade.
Pesquisa realizada pelo Portal Papo de Homem, ONU Mulheres e Boticário, revelou que 81% dos homens consideram o Brasil um país machista. Esse número cresce entre as mulheres, 95%. O mundo já se diversificou desde que as mulheres passaram a fazer parte da população economicamente ativa, desempenhando atribuições dantes apenas do gênero masculino.
Assim, quer o sexo masculino se desincompatibilizar de vários estereótipos e clichês criados. De acordo com a mencionada pesquisa: 66,5% deles não falam com os amigos sobre medos e sentimentos; 45% gostariam de não se sentir obrigatoriamente responsáveis pelo sustento financeiro da casa; 45,5% gostariam de se expressar de modo menos duro ou agressivo, mas não sabem como; 56,5% gostariam de ter uma relação mais próxima com os amigos, expressando afeto; e, 54% gostariam de ter mais liberdade para explorar hobbies pouco usuais, sem serem julgados.Por último, 3% dos entrevistados afirmou ser bastante machista.
Na verdade, o que desejam mulheres e homens com as mudanças e papéis sociais dos gêneros, na atualidade? É sabido da necessidade de enfrentar determinados comportamentos sociais atribuídos a homens e mulheres, desde sempre. Qual a função do homem na vida da mulher, e vice-versa? A mulher ainda almeja alguém para pagar as suas contas e ser o chefe do lar?
E o homem, ainda consegue e deseja o papel de herói, de “durão”, onde os sentimentos não podem ser demonstrados? A mulher ainda deseja manter o relacionamento com um homem que tenta firmar masculinidades e virilidades? O homem tem a intenção de formar “família margarina”, que ao sair da o beijo na amada a deixando em casa, por não trabalhar, para retornar e encontrar tudo no seu devido lugar, com todos e todas de banho tomado à sua espera? Qual o papel da mulher e do homem no atual contexto social?
Os homens, assim como as mulheres, precisam se integrar, também, em todos os espaços, tal como fizeram e fazem as mulheres. É comum entre o gênero feminino ambientes de discussões sobre como são, e como deveriam ser vistas pela sociedade. Entre os homens, também há necessidade de amadurecimento da sua atual condição.
Exemplo disso é a importância de ações educativas para discutir a saúde do homem, espaços para a discussão sobre masculinidades, a não violência contra a mulher, aumento da licença paternidade etc. A mudança só acontece com o amadurecimento. Algo de grande valia para reflexão masculina é a valorização da opinião feminina. O saber ouvir, e entender, é especial para agentes em transformação.
Guilherme Valadares, que é fundador e diretor do Portal Papo de Homem contextualizou: “os homens não precisam se sentir ameaçados. O que está sendo combatido é apenas a masculinidade tóxica, não o masculino como um todo. Assim como o machismo é prejudicial às mulheres e aos próprios homens, a igualdade de gênero é benéfica para todos nós. Por isso acreditamos que há espaço para envolver os homens nesse movimento, sempre respeitando o protagonismo das mulheres.”.
O que se busca é a valorização dos dois gêneros, entre eles. Que os gêneros consigam “conversar” normalmente como agentes sociais prontos para o aprendizado, que deve ser contínuo. Para ambos, a insegurança é nociva. Ao homem, é a perpetuação da violência, com a obrigação de ser provedor, poderoso, forte e viril. Para a mulher, é assumir a condição de dependente emocional, incapaz de passo firme sem a presença masculina, aceitando todas as formas de submissão. As cobranças devem ser esquecidas, deixando margem à liberdade de ser, estar, ficar e permanecer.
Rosana Leite Antunes de Barros é Defensora Pública Estadual, Presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso.