Os oportunistas sabem usar o medo que as pessoas têm das mais diversas situações possíveis, para, desta forma, chegarem ao poder. Os discursos são quase os mesmos e, quase sempre, partem também dos mesmos estereótipos.
Salvadores da pátria, protetores da ordem, pai dos pobres. Todos, diante de população amedrontada, dão ênfases aos pontos que consagram o populismo. Não faltam exemplos – na história de todos os países – de alguma figura pública, que por sua vez, surgiu com esse discurso: que iria trazer mais segurança, empregos e ordem pública.
Os nortes americanos estão vivendo esse pânico. Não há quem não se lembre onde estava na manhã de terça-feira, 11 de setembro de 2001, quando o mundo assistiu, estarrecido, ao maior atentado da história dos Estados Unidos. Quase 3.000 pessoas morreram após o ataque terrorista.
Donald John Trump, tendo alcançado na juventude a patente de capitão do exército americano e a fama de negociador bem sucedido, soube ler a psicose frenética dos ianques, para assim, por meio de um discurso populista, vender a garantia póstuma de segurança e emprego.
Porém, além desses fatores do medo, também existe um sentimento velado de vingança latente e reprimido dentro da sociedade americana. Eles não engoliram dois mandatos de um presidente negro na história dos Estados Unidos. Por isso, elegeram um líder que não tem pudor e nem economiza palavras na hora de segregar e pôr a culpa em estrangeiros diante da instabilidade econômica do país.
No passado alguns estados americanos já conviveram com movimentos extremistas, como a Ku Klux Klan – nome de três movimentos distintos, passados e atuais, dos Estados Unidos que defendem correntes reacionárias e extremistas, tais como a supremacia branca, o nacionalismo branco, a anti-imigração. O discurso de
Trump não chega a ser tão extremista assim, mas reacendeu esse sentimento semelhante – de imputar a terceiros a culpa pelos os problemas sociais de todos os americanos.
A data de ontem marcou o 78º aniversário do dia conhecido com kristallnacht, a “noite dos vidros quebrados”. Isso porque, na noite de 9-10 de novembro de 1938, os motins, organizado pela liderança nazista, expandiram-se em toda a Alemanha, incendiando propriedades de ciganos, de negros e de judeus. O discurso de Hitler, à época, também colocava a culpa em estrangeiros por, segundo o ditador, roubarem oportunidades e empregos dos “nativos” alemães.
Porém, o que as pessoas não sabem é que tanto nos Estados Unidos como na Alemanha, essas minorias, que sofreram perseguições, tinham raízes mais antigas do que a própria identificação cultural da maioria que se dizia branca nesses países.
Ou seja, os fatos históricos revelam que os exemplos de perseguição extremistas não ocorrem por causa da naturalização, mas pela identificação de hábitos semelhantes da grande massa, em detrimento da diversidade cultural das minorias.
No Brasil isso já começa a ficar preocupante, pois esses “líderes”, que representam a faxina étnica e “moral” da pátria, em função de trazer mais segurança e estabilidade, a qualquer custo, têm ganhado cada vez mais seguidores e adeptos.
O discurso de ódio segregacionista não colabora em nada para fazer valer o que está escrito na Magna Carta de 88. Uma coisa é você criticar políticas do PT, do PMDB ou do PSDB, por não seguirem um modelo democrático e constitucional vigente. Outra coisa é você se deixar ser dominado por ideologias extremistas – de líderes disfarçados de políticos justiceiros.
É por esses motivos que as políticas educacionais precisam proporcionar um ensino que traga autorreflexão crítica e emancipação filosófica para nossos jovens.
Porque, senão, continuaremos a legitimar regimes ditatoriais, autoritários e antidemocráticos. Tudo isso porque o preconceito, o extremismo desumano, o prejulgamento, a intolerância religiosa e o racismo ainda, infelizmente, prevalecem na nossa “sociedade”.
Marcelo Ferraz é escritor e jornalista.