"> Mundos rural e urbano – CanalMT

Mundos rural e urbano

Na última sexta-feira assisti a palestras no evento “CresceMT- Educação para um novo tempo”, promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar-MT. Há muito tempo não me sentia tão provocado e tão profundamente motivado. A educação foi jogada nua e crua no colo das quase mil pessoas que estavam lá. A maioria jovens e professores.

Curioso: o Senar buscando ajuda pra educar o mundo rural e reverter em qualidade de vida, renda e auto-estima do homem rural. De outro, professores em busca de ferramentas pra atuarem. Ao final, saí com a nítida sensação que as universidades estão pra lá de Marrakesh, longes da realidade. Os professores estão buscando pro sua conta e risco. Achei isso maravilhoso. Há muito venho criticando as universidades pelo seu emparedamento dentro dos seus campi.

O assunto  é riquíssimo e vai pedir outros artigos. Neste vou ater-me à palestra da filósofa Viviane Mosé, a quem já acompanho há muito tempo. Ela definiu claramente os mundos rural e urbano. O rural, diz ela, produz mais riqueza do que o urbano, mas tem auto-estima baixa. O jovem quer educar-se pra sair do campo como se lá fosse um lugar ruim.

No urbano, não encontra a mesma riqueza humana e econômica. O urbano está emparedado nas contradições sociais. Como a educação brasileira foi construída a partir de 1950, pra a indústria e pra apertar parafusos, ela foi fragmentada e nunca casou as disciplinas com as coisas normais da vida. O mundo rural casa perfeitamente a vida com a vida, porque lá a realidade é diferente da cidade.

O que distingue e fixa o preconceito urbano contra o rural, é que a mesma educação hoje presente nas ferramentas de informação presentes na tecnologia, não possui métodos adequados. Na cidade as escolas ensinam em prisões de alunos fechados por longos períodos numa sala de aula. Nas ruas a vida ferve e ensina de tudo. No rural, muito mais, e caberia ensinar ao mundo na sua riqueza natural. Mas os métodos lá e cá são os mesmos: a prisão domiciliar dos alunos. São gerações definidamente digitais com visão de universo, confinados na falta de métodos renovados.

Segundo Viviane, o desafio da educação é voltá-la para a vida. Nisso o campo é fértil: vida, natureza, alimentos, emoções, fenômenos naturais. A solução seria uma educação de valores para ambos. “Educação é desafio e vida”, diz ela. O cerne está na educação fundamental pra ensinar a pensar, discernir e sentir a vida.  Sua conclusão é emocionante: “A vida é feita de conflitos em qualquer lugar. O conflito é natural do ser humano. O campo não é pior do que a cidade. A educação precisa de métodos específicos pra um e pra outro”. Saí de lá renovado. Temos salvação! Voltarei ao assunto.

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br


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