Enquanto o Brasil levava o quinto gol da Alemanha durante a Copa de 2014, o embaixador do Reino Unido, Alex Ellis, se acalmava com um uma xícara de chá ao melhor estilo britânico. A paixão pelo Brasil o levou também a desfilar no carnaval carioca, a participar do Festival Folclórico de Parintins e mergulhar na vida do povo que, segundo ele, tem capacidade incrível de resiliência e criatividade. Às vésperas de concluir seu trabalho no Brasil e de assumir o cargo de Diretor Geral das Relações com a União Europeia no novo Ministério criado para o Brexit, Alex Ellis conversou com a VEJA. Confira trechos selecionados da entrevista:
Globalização
“Nos últimos 25 anos, o capital tem sido mais beneficiado que o trabalho com a globalização, apesar de ter ajudado uma enorme quantidade de pessoas a saírem da pobreza. Mas o trabalhador precisa ver mais valia para ele. Tivemos uma fase muto boa após a queda do muro de Berlim em termos de globalização mas agora estamos em um novo ciclo”.
“Precisamos mostrar os benefícios da globalização. É preciso criar acesso ao conhecimento para todos, educação, e um sistema de impostos equilibrado e justos para ajudar as pessoas que sentem que a globalização beneficiou apenas o detentores de capital. Os salários médios não estão subindo tanto quanto o capital, por isso as pessoas culpam os investidores”
Brexit
“Ninguém quer uma separação amarga. Por outro lado, recebemos sinais da Comissão Europeia de que um país saindo da União Europeia não pode receber um bônus de saída. A transição vai ter uma negociação complexa em relativamente pouco tempo, apenas dois anos, e precisa também ser ratificada pelos parlamentos, o que também não será fácil”.
“É um erro subestimar a decisão política de alguns países sobre a permanência no bloco. A Alemanha pós-Segunda Guerra precisa de um mecanismo no qual pode operar. A França apostou na estratégia de entrar no bloco para lidar com a Alemanha. Nós britânicos somos pragmáticos. A decisão de permanecer ou não na União Europeia nunca foi existencial. Por isso também nos anos 1950 decidimos não entrar no bloco e não aderir à moeda única”
Estados Unidos
“A dificuldade que Trump traz é a imprevisibilidade. Ele faz questão de ser um outsider, não ser parte da máquina política. Então fica difícil saber quais serão suas prioridades, já que a campanha dele foi sobre isso e não sobre suas políticas. Até que ele entre na Casa Branca, não teremos ideias muito claras”.
Ellis foi Diretor de Estratégia do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido de 2010 a 2013, depois de ter sido, de 2005 a 2007, assessor do Presidente da Comissão Europeia (o português José Manuel Durão Barroso) para questões de desenvolvimento, comércio e estratégia. Ele também serviu como embaixador britânico em Lisboa entre 2007 e 2010.