Leo Matsuda diz levar a diversidade e a alegria do povo brasileiro ao mundo com Trabalho Interno, filme da Disney na final da categoria de curtas animados do Oscar 2017. Sim, Leo Matsuda é brasileiro. E não só. O paulistano, que em Trabalho Interno aposta na dualidade “cérebro-coração” se inspira, diz, na dicotomia de sua condição de nissei (filho de japoneses imigrantes). Matsuda cresceu na Disney graças a um concurso interno para descobrir novos talentos que o revelou a John Lasseter, diretor de criação da gigante do entretenimento e a mente por trás de Toy Story e Carros. Depois de trabalhar em Zootopia, Operação Big-Hero e Detona Ralph, o brasileiro recebeu aval para tocar a própria produção, que chega ao Brasil em 5 de janeiro, como esquenta para a nova princesa da Disney. Com pouco mais de seis minutos, Trabalho Interno abrirá as sessões de Moana: Um Mar de Aventuras.
Leia abaixo a entrevista que Leo Matsuda concedeu ao site de VEJA:
O que aprendeu com eles? A valorizar a ideia. Às vezes, as pessoas no Brasil focam muito na execução da ideia, o que acaba impedindo que ela vá para frente. Lá nos Estados Unidos, a importância maior é dada para a ideia em si. Se a ideia não for boa, é uma coisa que não vale a pena contar.
Foi isso que o impulsionou a procurar trabalho no exterior? Sim, eu sempre gostei de contar histórias, e acho que poder contar minhas histórias foi o que me impulsionou a trabalhar fora.
O personagem principal de Trabalho Interno é brasileiro, americano ou assume um caráter universal? O Paul é muito baseado em mim. Eu tenho ascendência japonesa, apesar de ser brasileiro: nasci em São Paulo e cresci em São José dos Campos. É um personagem que mistura nacionalidades, o que se reflete na dualidade “cérebro-coração”, explorada durante todo o longa. Acredito que não existe um estereótipo de brasileiro, todos são uma mistura de raças e culturas, e é com essa diversidade que esperamos que as pessoas se identifiquem no curta. Geneticamente, eu sou japonês, mas tenho meu lado brasileiro que gosta de festa, de Carnaval. É com essa dualidade que existe dentro de mim, e eu acredito que exista de formas diferentes em todas as pessoas, que eu espero que cada pessoa consiga se identificar.
Qual reflexão você quer propor com essa animação? A ideia de seguir o coração, o que você ama. Mas de forma realista. Não tem como você abandonar suas responsabilidades, seu trabalho, então a saída é encontrar a alegria onde você está, no momento. Eu acho que o Paul encontrou um equilíbrio, é lógico que ele não pode abandonar suas responsabilidades, mas ele encontrou aquela esperança, e a partir deste momento ele mudou e contagiou as pessoas ao redor dele. É uma jornada interior, de cada pessoa compreender isso.
Como Trabalho Interno vai dialogar com Moana? As pessoas tendem a pensar que os curtas-metragens da Disney têm alguma relação com o longa que precedem, mas eles são totalmente à parte. No meu caso, acho que o único ponto em comum é a praia. Também a trilha sonora mais alegre, com um pouco mais de energia.
Quais suas impressões sobre o cinema nacional, agora que estamos tentando gêneros diferentes, como terror, ficção científica. Há muitas ideias boas no Brasil, e agora é uma época fenomenal para o cinema nacional. Vejo muitos projetos vindos de diretores independentes, não ligados a um estúdio, e isso é muito admirável. Estão gastando o próprio dinheiro para investir em algo com risco, mas colocando o Brasil para competir com projetos do exterior. Ainda mais com a indústria de animação tão globalizada, com a internet o acesso está muito mais fácil, você pode fazer um curta e colocar no YouTube. Eu realmente gostaria que os brasileiros continuassem isso, de dividirem as ideias pessoais, ao invés de unicamente focar na execução. O brasileiro tem muito mais potencial do que executar, de fazer um comercial que parece bonito. Tem muita ideia boa para se contar no Brasil, muita história.
Você pretende voltar para o Brasil, fazer algo aqui? Estou sempre aberto para tudo, a gente nunca sabe. “A vida é uma caixa de chocolates”, como disse Forest Gump. Mas hoje eu estou em uma época muito boa na Disney, dizemos lá que estamos na “Época de Renascença”. A Disney despontou muito, eles estão valorizando muito o fato de contar uma história boa, nem que demore muito. Eu estou muito feliz lá, mas eu estou aberto, como todo cineasta deve ser, a oportunidades.