“Ainda vamos passar pela Estação PT”, disse certa vez o saudoso Carlos Alberto Allgayer. Corriam os anos 80 e estávamos a conversar entre quatro bons amigos.
Allgayer era um talentoso jurista, que viria a ser diretor da Faculdade de Direito da PUC/RS, homem de uma sabedoria cordial que parecia cuidar para não constranger quando se expressava com sua voz privilegiada.
Dava tanto gosto ouvi-lo que é impossível lembrar dele sem que, na imagem mental, apareça falando. E foi com essa voz que nos profetizou a chegada ao poder do pequeno partido saído das urnas gaúchas de 1986, época desse bate-papo, com uma pequena bancada de dois deputados federais e quatro deputados estaduais.
A Estação PT foi um desastre ao qual chegamos 16 anos mais tarde. Fomos conduzidos a ela através da mais poderosa máquina de agitprop (agitação e propaganda, no dizer marxista-leninista) em operação no Ocidente após a queda do Muro de Berlim.
Ao longo desse tempo, a política petista era servida nos meios de comunicação até pelos programas esportivos. Do ensino fundamental aos cursos de pós-graduação, frequentava a maioria das salas de aula.
Habitava certas atividades pastorais, Campanhas da Fraternidade e documentos da CNBB. Valia-se de uma impressionante gama de movimentos sociais que se converteram em braços mais ou menos violentos da mesma causa por outros meios.
Urdiu uma rede de organizações não governamentais que orbitaram e parasitaram o partido, servindo-lhe como militantes da luta de classes, de raças e de sei lá quantos gêneros. Compôs engenhoso conjunto de instituições – quase poderia dizer “artefatos” – culturais, dedicados à sistemática destruição da cultura cristã e seus valores. E para nada disso faltava dinheiro.
O amável autor da profecia sobre a Estação PT faleceu em abril de 2002 sem presenciar a concretização de seu vaticínio.
Os demais, vivemos para ver e relembrar o episódio, repetidas vezes, ao longo dos últimos anos, exatamente como aconteceu ontem, quando me caiu diante dos olhos um documento da Fundação Perseu Abramo (órgão de pesquisa, elaboração doutrinária e formação do PT), que pode ser lido aqui.
Nele, o autor ataca a política econômica e administrativa adotada durante o “modelito neoliberal dos tucanos”, no qual “as estatais, responsáveis para a Produção Para o Mercado, seriam todas privatizadas e os serviços não exclusivos do Estado – educação superior, hospitais, previdência social acima do salário mínimo – seriam também privatizados”.
Como consequência, constata ele, no período de 1995 a 2002 houve uma redução de 121 mil servidores federais. E em contrapartida, na gestão petista, entre 2003 e 2013 – gaba-se o autor da matéria – foram nomeados 240 mil novos servidores. Isso equivale a 2,5 novos servidores por hora, sob o governo petista!
A demagogia, a irresponsabilidade fiscal, o patrimonialismo, a corrupção e o inchaço da máquina pública, que agora vejo, no site do partido, ser proclamado como admirável avanço administrativo, confluíram para gerar a tremenda energia destrutiva que acabou por demolir a Estação PT e tudo mais à volta.
A conta do estrago? A conta do estrago é nossa. Que a possamos pagar, são meus votos nesta alvorada de um novo ano. E que o Senhor nos proteja, se possível, com um par adicional de Anjos da Guarda, preferivelmente brasileiros, afeitos à barbárie urbana que tomou conta de nosso país.
Percival Puggina é arquiteto, escritor e empresário