O caso de corrupção da Odebrecht na América Latina está dando muito que falar. A coisa tomou rumo maior depois do acordo da empresa brasileira com a Justiça norte americana e a da Suíça.
Ela desnudou o que fez fora do Brasil, confessou seus equívocos e o que andou fazendo na América Latina.
A Odebrecht, financiada pelo BNDES, ajudou a manter no poder alguns governos de esquerda. Ou, em outras palavras, dinheiro do contribuinte brasileiro ajudou a esquerda latino americana ganhar eleições.
Além da obra pública para ajudar a imagem de governos, se tirava dinheiro para corrupção direta de dirigentes e também para pagar por eleições. A Odebrecht andou aprontando no Equador, Venezuela, Argentina, Nicarágua, Cuba, Republica Dominicana, El Salvador (além de Peru e Colômbia). Lula, no governo ou fora, ajudou nos empréstimos e virou um herói regional. Atrás dos empréstimos vinham as outras coisas.
O marqueteiro João Santana ganhou muito dinheiro da Odebrecht para fazer campanha para governos da esquerda regional. Criou-se um clima de que a região era espontaneamente de esquerda. Isso foi em parte pelo dinheiro da corrupção e das técnicas conhecidas do marqueteiro.
A Odebrecht confessou claramente que fazia corrupção desbragada. A Justiça de alguns desses países está indo atrás do mal feito, outros lugares, como a Venezuela, não estão mexendo no assunto. O fio dessa corrupção regional foi puxado pela Lava Jato.
E, voltando para casa, tem gente no Brasil achando que ela está indo longe demais. Tem até aqueles que arguem que a Lava Jato está atrapalhando a economia brasileira e impedindo o Brasil de voltar a crescer.
Essa ação, diferente do que pensam alguns, é vista no exterior como algo extremamente positivo do recente Brasil. É um enfrentamento que se faz com uma praga que segue o Brasil desde a Colônia e agora até ajuda outros países da América Latina no combate à corrupção.
A Lava Jato, depois da delação da Odebrecht, deve diminuir seu ritmo. O processo deve sair de Curitiba e ir para o STF. Empresários, que não tem foro privilegiado, já pagaram ou estão pagando por seus erros. Como a classe política tem privilégios especiais, só o STF poderá julgá-la.
Não é interessante um país dar foro privilegiado e imunidade para um grupo de gente que está perto do fogo da corrupção? Não seria uma forma de incentivo para pularem a cerca da moralidade com a coisa pública?
Será que vai diminuir a corrupção no Brasil? Sei não, mas fico com algo fora da Lava Jato que sinaliza que talvez possa amenizar um pouco a rapina nos cofres públicos.
Têm empreiteiros com receio de continuar nesse jogo. Temem a exposição negativa e, no caso, expor e desmoralizar sua família. Esse receio talvez ajude a mudar um pouco a eterna simbiose entre corrupto e corruptor. E quem sabe chegue a outros lugares da América Latina também.
Alfredo da Mota Menezes é professor universitário e analista político