Oposição, sim; mas nem tanto. Essa é a regra em Mato Grosso entre os poucos prefeitos que durante a campanha não rezam pela cartilha do governador. Sempre foi assim. Esse princípio também se aplica entre vereadores e prefeitos, e que ninguém tente me desmentir, nas relações ditas institucionais da Assembleia com o Palácio Paiaguás.
No primeiro dia deste mês cobri o lançamento da obra de duplicação dos 4,9 quilômetros do trecho urbano da MT-010. Tentei falar com Marcelo Duarte, o secretário de Obras do governo, mas não consegui porque ele gravava para a televisão. Um assessor de Sua Excelência me forneceu as informações. Aguardei pela chegada do prefeito Emanuel Pinheiro, pra passar a régua.
Emanuel chegou e permaneceu uns 20 minutos cercado por repórteres com suas perguntas. Paciente, apesar do sol de mais de 40º, fiquei perto do prefeito. Quando os colegas saíram, perguntei qual seria sua postura, já que a obra não incluía iluminação. “Verdade?”, questionou-me. Disse que sim e o silêncio foi sua resposta.
Insisti: “Vou propor parceria, mas se o Pedro Taques não aceitar faço tudo sozinho”, respondeu. Vale observar que o “faço tudo sozinho” em outras palavras quer dizer que o contribuinte, também chamado de munícipe, é quem bancaria a obra.
Os discursos foram longos. Marcelo Duarte detalhou a obra, que incluindo uma trincheira no cruzamento da 010 com a MT-251 chegará a R$ 55,8 milhões. Palmas, muitas palmas da plateia, do jeito que os políticos no poder gostam.
Fala um, outro também e mais alguém, até que Emanuel pega o microfone e aterra o fosso que o separava de Taques. Disse que Cuiabá era maior que os dois, que não os separaria, mas sim os uniria. O movimento comunitário entrou em delírio, quase um orgasmo subserviente. A união estava restabelecida. Pensei com meus botões dando piruetas na memória: votei nesse prefeito pra derrotar o candidato do governador e agora vejo que foi voto na recriação da sublegenda de fachada, bem ao estilo do regime de Golbery quando de minhas primeiras votações.
Inflamado no pronunciamento, Emanuel revelou que queimou pestanas, claro que no sentido figurado, sobre a falta de iluminação no projeto e propôs o clássico ‘rachid’ – meio a meio – ou numa saída alternativa bancar a obra com os caraminguás dos munícipes. Taques ouviu em silêncio e o abraçou fraternalmente.
Fechando a solenidade, Taques não aceitou a parceria proposta por Emanuel. “A iluminação tem baixo custo”, ponderou, mas desafiou o prefeito para pavimentar com o governo uma via ligando a 010 ao novo pronto-socorro, o que não foi aceito pela desafiado.
Saí da tenda onde tudo aconteceu. Peguei o carro, passei perto de Emanuel, novamente cercado pelos jornalistas. Pelo nosso modelo político, ele teria muito a dizer sobre a iluminação. Regras do jogo.
Eduardo Gomes é jornalista eduardogomes.ega@gmail.com