Numa guerra contra os opositores, os ditadores fazem de tudo para não perderem o poder. Não querem nem saber se no meio do conflito morrerão crianças, mulheres e idosos, enfim, civis. O objetivo é atacar o inimigo até exterminá-lo por completo, mas quem paga pela barbárie são os inocentes.
Os ataques químicos a Khan Sheikhoun, que fica cerca de 50 km ao sul da cidade de Idlib, província localizada na Síria – onde, segundo informações do Observatório Sírio de Direitos Humanos, mais 70 pessoas morreram , incluindo 11 crianças, e 300 feridos – revela tal nível de atrocidades cometidas por governos despóticos.
Conforme as informações preliminares da agência de notícias Associated Press, o gás sarin – que é altamente tóxico e considerado 20 vezes mais letal do que o cianureto – pode ter sido usado no ataque, o que agrava ainda mais a culpabilidade por parte do governo de Bashar al-Assad.
O efeito desse gás é terrível no organismo, pois os sinais que as células nervosas humanas transmitem aos músculos para relaxá-los são desativados, já que a enzima responsável por essa função, em contato com o gás sarin, é inibida, o que, após a alteração biológica, faz com que o coração e outros músculos – incluindo os envolvidos na respiração – tenham espasmos, ou seja, provoca convulsões que pode levar à morte por asfixia já nos primeiros minutos após o contato.
Assistir pela TV, ler ou ouvir essas notícias – sobre bebês e crianças indefesas sofrendo os efeitos desse gás – às vezes, não nos traz à tona dos sentidos a verdadeira dor e os traumas que tudo isso causa aos familiares da vítima. Uma tragédia que abala a fé e o equilíbrio de qualquer pessoa.
Ataques indiscriminados e cruéis, como esse, já ocorreram diversas vezes no mundo:
O Bombardeio de Guernica em 26 de abril de 1937 foi mais um gesto de atrofiamento da consciência humana. Na ocasião, após um ataque aéreo por aviões alemães durante a Guerra Civil Espanhola no País Basco, 1. 654 pessoas teriam morrido. Porém, estimativas modernas avaliaram o número de mortos em de 300 a 400. Segundo os registros oficiais feitos pelo país, o ataque – que serviu também para testar aviões de guerra e ganhar experiências no combate aéreo – apoiou as forças do ditador fascista Francisco Franco, que invadiram a cidade poucos dias depois do bombardeio.
Por outro lado, “os heróis” americanos também já cometeram atrocidades inimagináveis. Os bombardeamentos atômicos das cidades de Hiroshima e Nagasaki, realizados pelos Estados Unidos contra o Império do Japão, durante os estágios finais da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945, mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas na primeira cidade e 60 mil e 80 mil seres humanos na segunda; cerca de metade das mortes em cada uma delas ocorreu no primeiro dia. Em ambas as cidades citadas, a maioria dos mortos era civil.
Agora, o leitor deve está pensando mais o que todo esse terror tem a ver com o Brasil?
Os números de vítimas em um conflito armado. Segundo o Mapa da Violência de 2016, de autoria de Julio Jacobo Waiselfsz, que revela Evolução dos homicídios por armas de fogo: 1980-2014, 1 milhão de pessoas (967.851) foram vítimas de disparo de algum tipo de arma de fogo nesse período.
Contudo, o que impressiona é o número de pessoas armadas no Brasil. Segundo estimativas realizadas por Dreyfus e Nascimento, amplamente utilizadas como balizador sobre esse tema, o país contava com um vasto arsenal de armas de fogo em mãos da população: um total de 15,2 milhões em mãos privadas, 6,8 milhões registradas, 8,5 milhões não registradas e dentre estas, 3,8 milhões em mãos criminosas. Conforme o estudo de Jacobo, a magnitude do arsenal guarda estreita correspondência com a mortalidade que essas armas originam.
No entanto, mesmo diante desse quadro de violência absurda e descontrolada que o mundo e o Brasil infelizmente vivenciam, ainda tem “representante público” na Câmara Federal que vêm a público dizendo que “a primeira coisa que vai fazer, quando ser eleito, será armar a população”.
Este mesmo deputado federal – que está atuando de todas as maneiras para criar uma espécie de separação étnica da população brasileira – não reconhece os diretos dos indígenas, muito menos dos quilombolas; chegando até a dizer esta semana, de maneira racista, que alguns afrodescendentes (remanescentes desses quilombos), segundo as palavras dele, “estão pesando mais de sete arrobas”, numa nítida intenção de animalizá-los. Um absurdo sem tamanho.
No entanto, será que esse fascista moderno sabe que hoje cerca de 70 % dos militares das Forças Armadas Brasileiras, bem como da Polícia Militar e Civil são originários de afrodescendentes e de indígenas? Brasileiros que lutam para organizar a pátria não apoiam extremistas conservadores antirrepublicanos, que só fazem sensacionalismo com a desgraça alheia para obter votos da população injustiçada diante das mazelas sociais.
Mas, quando o sangue de ditador corre nas artérias, eles vão fazer de tudo pelo poder, custe o que custar. É por isso que a missão dos republicanos e daqueles que têm um mínimo de consciência política é impedir que essas tragédias históricas ocorram novamente. A democracia está sempre em jogo.
Marcelo Ferraz é jornalista e escritor. Autor de obras à venda no site da Livraria Cultura e no site Amazon.com . O autor ganhou o Prêmio Mato Grosso de Literatura, e o Concurso Literário Prof. Sérgio Dalate, ofertado pela Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT).