O corregedor da Polícia Militar de Mato Grosso (PMMT), coronel Alexandre Corrêa Mendes, afirmou que a existência de um esquema de grampos clandestinos no estado controlado pelo Núcleo de Inteligência da PM, se confirmada, é resultado de ações de membros isolados da corporação. A denúncia foi feita no dia 14 deste mês, em uma reportagem do Fantástico, e essa é a primeira vez que a Polícia Militar se manifesta sobre o assunto.
O esquema foi denunciado à Procuradoria-Geral da República pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança em 2015. Ele diz que recebeu denúncia do caso naquele ano e que alertou o governador Pedro Taques (PSDB). Agora, a PGR investiga se Taques sabia do crime e de quem partiu a ordem para as interceptações. O governador, por sua vez, nega que tinha conhecimento sobre o caso.
Por meio de nota, o corregedor da PM afirmou que as interceptações telefônicas só podem ser requeridas por oficiais da PM, dentro de inquéritos que estejam atuando. Os pedidos, segundo a polícia, devem ser feitos diretamente e somente ao magistrados responsável pela 11ª Vara Especializada de Justiça Militar.
Segundo consta na denúncia, pelo menos 80 pessoas tiveram as conversas grampeadas entre outubro de 2014 e agosto de 2015 no estado, entre elas políticos de oposição ao atual governo de Mato Grosso, advogados, médicos e jornalistas.
Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação do Núcleo de Inteligência da PM sobre tráfico de drogas que teria o envolvimento de policiais militares. O resultado dessa investigação, porém, não foi informado pelo governo até hoje.
Na nota, o corregedor da PM diz que a corporação “não compactua com desvios de condutas de qualquer um dos seus integrantes”.
De acordo com a denúncia feita à PGR, o policial militar que solicitou a inclusão dos telefones de forma indevida foi o cabo Gerson Luiz Ferreira Correa Junior, que na época era cedido ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). Atualmente ele é lotado na Casa Militar, cujo chefe é o coronel Evandro Alexandre Ferraz Lesco, que atuou no Gaeco na mesma época que o cabo.
Segundo uma nota fiscal que consta na denúncia, Lesco pagou R$ 24 mil num aparelho de interceptações telefônicas em 2015. Atualmente, tanto o cabo quanto o coronel trabalham na Casa Militar, no Palácio Paiaguás, onde fica o gabinete do governador.
Esse tipo de gravação telefônica clandestina, de pessoas que não são acusadas de crime, é conhecida como “barriga de aluguel”, segundo o autor da denúncia, promotor de Justiça Mauro Zaque.
Investigação
A Polícia Militar abriu, no último dia 15, um inquérito para investigar a conduta de PMs no esquema. Além da PM e da PGR, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso determinou investigação sigilosa sobre o caso.