Os impactos da poluição globalizada são devastadores. O ser humano que vive em sociedade está constantemente produzindo uma grande quantidade de poluentes que afetam o ar, os solos, as plantações e áreas naturais. Falta educação política para entender que esses problemas socioambientais prejudicam enormemente a qualidade de vida.
Foi a partir da Revolução Industrial, que trouxe consigo a urbanização e a industrialização, com o incentivo à produção e acúmulo de riquezas, aliado a necessidade aparente de se adquirir produtos novos a todo momento, que fez com que a ideia de progresso surgisse ligada à exploração e destruição de recursos naturais. Nesses últimos dois séculos o capitalismo difundiu a ideia de que a ciência e a tecnologia iriam corrigir todos os problemas criados pelo ser humano. Agora estamos vendo que não temos essa capacidade.
De acordo com José Marengo, climatologista do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e membro do IPCC (Painel de Mudanças Climáticas da ONU), o Brasil passou a poluir mais nos últimos anos pela queima de combustível fóssil, assim como os países desenvolvidos em meio ao aumento da frota de carros, um cenário “preocupante”, afirmou.
Isso gerou um ambiente contaminado pelo transporte maligno, o principal causador da concentração de poluente no ar. Mais de 40% das emissões do gênero no mundo vêm dos escapamentos de veículos na América Latina. Os números divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas) no final de 2012 demonstram que o Brasil e o México são responsáveis por mais da metade de emissões poluentes dentro do continente latino-americano.
Trata-se de uma poluição cumulativa, trazendo doenças mortíferas em seres vivos. As principais consequências da poluição estão na destruição da camada de ozônio, chuvas ácidas, alterações drásticas nas taxas de natalidade e mortalidade de populações, gerando impactos na cadeia trófica. O crescimento vertiginoso no número de pessoas com câncer em muito se deve à poluição. O câncer na bexiga, por exemplo, tem forte impacto pela poluição e o fumo. Doenças da tireoide são outro exemplo.
O que nos causou enorme perplexidade foi a decisão do presidente Donald Trump de sair do Acordo de Paris. É inacreditável que um presidente de um país como os Estados Unidos possa tomar uma decisão tão prejudicial para o meio ambiente. Isso representa a volta ao passado, de crescimento desordenado e destruidor. Falta educação política ao presidente americano.
Segundo Dabo Guan, professor de economia na Universidade de East Anglia, no Reino Unido, e um dos autores do estudo publicado na revista “Nature”, “ a mortalidade prematura relacionada com a poluição do ar é mais do que apenas uma questão local. Os nossos resultados quantificaram essa extensão como esse é um problema global”. O que os Estados Unidos e a China resolvem fazer com a poluição afeta diretamente todos nós, em Cuiabá, em São Paulo, no Rio de Janeiro ou em Brasília.
Mas o contrário também é verdadeiro. O que a gente faz de errado em nosso quintal afeta o planeta. Cada saco plástico que deixamos na rua, e que vai parar nos rios, é levado aos mares e oceanos e causa problemas planetários. As microesferas de plástico que estão presentes em sabonetes esfoliantes acabam poluindo centenas de quilômetros de mares e voltam para nossos organismos via os peixes que consumimos. Voltam e nos fazem mal, nos fazem adoecer.
Há uma ligação íntima entre as grandes decisões e as pequenas. Entre o que o Donald Trump faz, para agradar os magnatas da economia norte-americana, e o que eu e você fazemos, por preguiça ou por falta de educação política, em nossas escolhas diárias. Nossos carros e o tipo de nosso consumo afeta o planeta como um todo. Quando achamos que não é de nosso interesse ou de nossa alçada pressionar por transporte público não poluente, estamos fazendo igual ao que o presidente dos Estados Unidos faz, mandamos todos para o inferno.
Vicente Vuolo é economista, cientista político e analista legislativo do Senado Federal.
E-MAIL: vicente.vuolo10@gmail.com