O presidente da Associação dos Oficiais da Polícia (Assof-MT), tenente-coronel Wanderson Nunes Siqueira, criticou duramente o governador Pedro Taques (PSDB), acusando-o de estar se utilizando da Polícia Militar para desviar o foco dos grampos ilegais, que teriam sido executados a mando do seu primeiro escalão.
Para o tenente-coronel, o suposto vazamento das informações que culminou na prisão secretário da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, e seu adjunto, coronel Ronelson Barros, na ultima sexta-feira (23), bem como a troca de comando da PM, seriam apenas tentativas de “esconder” o crime dos grampos.
O coronel Jorge Luiz de Magalhães deixou de ser comandante da PM após o corregedor-geral da Polícia Militar, o coronel Alexandre Corrêa Mendes, e o diretor de Inteligência da corporação, o tenente-coronel Victor Paulo Fortes Pereira, terem supostamente vazado informações sobre a prisão dos secretários. Com a saída de Magalhães, assumirá o comando da PM o coronel Marcos Vieira da Cunha.
“O ponto principal de toda essa história são as investigações das interceptações telefônicas. Essa história de vazamento de informações e troca de comando é apenas mudança de foco. Há uma série de boatos que saem e não se confirmam. O processo das interceptações corre em segredo de Justiça, então, não conseguimos tomar ciência do que acontece realmente”, disse Wanderson em entrevista ao Jornal do Meio Dia, da TV Record Cuiabá, nesta terça-feira (27). Assista ao vídeo da entrevista no final da matéria.
Ainda para o presidente, o suposto vazamento das informações tomou uma grande proporção dentro da PM – motivo que derrubou o comandante – devido ao que ele chamou de falha do próprio governador no momento de punir os militares. Isto porque tão logo surgiu na imprensa a ação dos militares, o governador se apressou em comunicar que informou ao Tribunal de Justiça sobre o vazamento das informações.
“O governador não deveria fazer ofício para o TJ aventando um suposto crime. Ele é comandante do governo e chefe da PM; se ele tomou conhecimento, tardiamente que seja, ele teria que requisitar os PMs e determinar a prisão deles. Não havia a necessidade de oficiar”, afirmou.
O presidente disse ainda que não somente o governador, como o próprio secretariado, deveriam ter agido de imediato ao suposto crime e não, depois, solicitar a prisão dos militares. Eles foram presos administrativamente por decisão do desembargador Orlando de Almeida Perri.
“A verdade é diferente do que o governo está falando. Tínhamos três secretários em uma sala. Os três são agentes públicos com poder de policia. Se eles estão como corregedor e diretor da PM cometendo uma infração, qual era obrigação desses três agentes? Era determinar a prisão em flagrante desses dois coronéis, mas não foi isso que aconteceu. Saíram, se despediram, e foram se reunir com o governador. Só o governador que entendeu que o que aconteceu foi crime?”, disse.
Além de criticar a ação do governo, Wanderson Nunes saiu em defesa dos miliares e garantiu que a reunião com os secretários se deu para tratar de assuntos no âmbito da PM – e não para repassar a informação da prisão dos mesmos.
“Eles nos garantiram que foram tratar da lei de promoção, que está na iminência de ser alterada pela instituição. Lá nesta reunião adentrou a sala o José Adolpho e o coronel Siqueira e conversaram assuntos outros. Mas jamais sobre a operação. Ao sair do gabinete, foram surpreendidos com o oficio do governador”, disse.
O presidente da associação disse ainda que o governo teria usado “dois pesos e duas medidas” para lidar com os supostos crimes ocorridos no âmbito da PM, já que culpa o comandante da PM pela ação dos militares, porém, isentaria o governador Taques quando a acusações ao seu secretariado.
“O governador tenta responsabilizar o comandante-geral por uma suposta ação do corregedor e diretor da PM, querendo dar a entender que o comandante-geral teria responsabilidade em uma conversa que eles teriam tido com o secretário chefe da Casa Militar, o que está totalmente errado. Se o comandante-geral é responsável pela ação do corregedor e diretor, o governador também o é, por ação de ex-comandante geral e do secretário da Casa Militar”, encerrou.
Grampos ilegais – O caso dos grampos ilegais veio à tona após denúncia feita pelo promotor de Justiça e ex-secretário de Segurança, Mauro Zaque.
Militares teriam se utilizado irregularmente do sistema “Guardião” de interceptação telefônica, bem como formalizado pedidos de interceptações telefônicas e respectivas prorrogações, como também dos relatórios de inteligência, com desvio de finalidade, a fim de que, na clandestinidade, obtivessem chancela judicial para execução de escutas indevidas.
Teriam sido vitimas dos grampos mais de mil pessoas, entre políticos, magistrados, médicos, empresários e jornalistas, segundo decisão judicial preliminar sobre o caso que culminou na prisão do cabo da Polícia Militar, Gerson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, e o ex-comandante da PM, o coronel Zaqueu Barbosa, suspeitos de comandarem o esquema.
O inquérito policial militar foi instaurado e está sob a responsabilidade do coronel Jorge Catarino e apura a participação dos militares no crime.