"> Brasil que não se apequena – CanalMT

Brasil que não se apequena

Sob o subtítulo de ‘A transmodernidade ou cosmopolitismo crítico enquanto projectos utópicos’, Ramón Grosfoguel encara um possível diálogo intercultural Norte-Sul.

Segundo o citado pensador, tal diálogo não pode ser alcançado sem que ocorra uma descolonização das relações de poder no mundo moderno.

Realmente, como desencadear um processo dialógico próprio de um sistema horizontal no interior de estruturas de poder vertical, tendo como fator de referência legitimadora o olhar eurocêntrico global?

Impossível sob o ponto de vista crítico-dialético, que deve ser audaz e direcionada a evitar os símbolos herdados da Europa e Estados Unidos como interventores e tomadores da cena de ação.

Aqui reside a impossibilidade habermasiana de universalidade. Não se pode estabelecer uma relação igual de culturas entre povos culturalmente diferentes; não há modernidade possível dentro dessa lógica axiológica.

Com isso, percebe-se que não se faz reformas profundas sem que, antes, as estruturas antigas de poder cedam àqueles que estão na condição de colonizados. E o que é pior, sem consciência disso.

Para superar o eurocentrismo e a dominação existente, claramente perceptível quando se depara com um diálogo sempre vertical nessas questões sensíveis, própria das estruturas de poder inflexíveis e impositivas de superioridade cultural, é de particular valia que o brasileiro deixe de lado o complexo de ‘vira-lata’.

O brasileiro não pode tornar-se o lobo do brasileiro, não é mesmo?

Observem melhor as entrevistas e palestras de notáveis brasileiros em eventos no exterior. Sempre se referem ao Brasil como uma espécie de paciente em estado terminal, ocupando algum leito do pior hospital e no mais nebuloso destino. Carregam nas palavras, fazem até biquinho a demonstrar sapiência no francês. No inglês, as gírias americanas os entusiasmam.

Tido por reacionário, Nelson Rodrigues, escreveu algo interessante: ‘O que atrapalha o brasileiro é o próprio brasileiro. Não sei se repararam. Cada um de nós é um Narciso às avessas e, repito, um Narciso que cospe na própria imagem. Aqui mesmo, nesta coluna, perguntei umas vinte vezes – será que nos faltam motivos pessoais e históricos para a autoestima?’.

O cuspir na própria imagem parece ser uma característica de quem está a ocupar a posição de colonizado cultural. Basta, devemos sublimar as diferenças e reconquistar o orgulho.

É por aí…

GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz de Direito.

antunesdebarros@hotmal.com


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