Voltamos ao estágio de paralisia política e econômica vivida no ocaso do governo Dilma.
Há, entretanto, uma diferença: a ex-presidente já tinha perdido o apoio popular e estava totalmente sem aliados no congresso e o atual presidente nunca teve apoio dos eleitores, mas quando assumiu o governo contava com a simpatia dos parlamentares, que está minguando hora a hora ou a cada notícia nova.
O Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, é hoje o Temer da Dilma, isto é, aguarda, fazendo-se de morto, a oportunidade de assumir a presidência.
Parece inevitável a queda do presidente não só pela ação do STF, que pede autorização dos políticos para investigá-lo, mas porque, se escapar desta, outros processos que estão em gestação, a seu tempo, virão a público.
O principal deles vem da provável delação do Eduardo Cunha, responsável direto pela cassação da Dilma e portador de segredos potencialmente suficientes para derrubar Temer.
Há informações, ainda não confirmadas, de que ele teria preparado 100 anexos com os fatos que pretende delatar. E o que é pior ( melhor no caso ) , o doleiro Funaro está participando do processo.
Não bastassem estas más ( boas, no caso) notícias, os políticos percebendo que o barco está fazendo água, afastam-se gradativamente do presidente.
Pode até ser que ele se livre na Comissão de Constituição e Justiça e posteriormente no plenário, porque a oposição precisa conseguir ao menos 342 votos para autorizar a abertura do processo.
Mas, por certo, se houver outra denúncia do Rodrigo Janot , baseada em futuras possíveis delações Cunha/Funaro, os deputados definitivamente abandonariam esse navio avariado.
A oferta de cargos e atendimento de nomeações que o presidente descaradamente está fazendo, na sequência pode não ter tanto valor assim, porque mais vale a reeleição assegurada dos deputados do que cargos em um governo em fim de linha.
De mais a mais, cargos e nomeações podem também ser negociados com o provável substituto Rodrigo Maia.
As reformas trabalhista e da previdência já estão muito comprometidas e o governo cede cada vez mais, na desesperada tentativa de salvar a pele.
Os sindicatos, em troca de apoio, já garantiram com o presidente a manutenção do imposto sindical que os sustenta na ociosidade.
É impossível continuarmos com um presidente que ocupa todo tempo defendendo-se de acusações e gastando um mundo de dinheiro público na liberação de verbas para comprar deputados e colocar os apadrinhados destes em cargos públicos em troca de votos no plenário.
Pode ser que o Temer resista em deixar o cargo para manter provisoriamente a imunidade a que tem direito como presidente, principalmente vendo as cenas do aliado Geddel com a cabeça raspada chorando durante audiência.
Mas após as gravações da JBS que mostraram interferência dele tentando obstruir a justiça sua situação ficou muito ruim, quase insustentável. O ex-senador Delcidio foi preso pelo mesmo crime.
Talvez seja viável uma saída acertada com a justiça, livrando-o da cadeia e poupando o país de um governo estagnado e deletério.
Uma coisa é certa: independentemente do Michel ficar ou sair, o Governo Temer já acabou.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá