"> Empresário acusa João Emanuel e diz que sabia da ” má fama”do ex-vereador – CanalMT
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Empresário acusa João Emanuel e diz que sabia da ” má fama”do ex-vereador

A Gazeta

Durante seu interrogatório na 7ª Vara Criminal de Cuiabá a respeito dos crimes investigados na Operação Castelo de Areia, o dono do grupo Soy, Walter Dias Magalhães Júnior, explicou que sempre trabalhou com compra e venda de grãos e que, em 2008, começou a atuar com compra de terras e financiamento de lavouras por meio da empresa ABC Share. Ele é apontado pela Polícia Civil como um dos maiores estelionatários de Mato Grosso e depois de preso na operação deflagrada em agosto de 2016, virou numa ação penal que é conduzida pela juíza Selma Rosane Santos Arruda.

No depoimento Walter relatou que o negócio teria dado certo até 2012, quando ele contratou um diretor executivo, que acabou se tornando sócio, mas, por ser ligado à outra companhia, foi notificado e bloqueado pela Comissão de Valores Imobiliários (CVM), o que acarretou no bloqueio também da ABC Share, pelo fato de ter que ficar sem um gestor responsável.

Após esse problema, Walter afirma que ficou por muito tempo tentando recuperar sua carteira de crédito. Sem condições de fazer negócios no Brasil, ele procurou bancos internacionais para fazer as transações com seus clientes, que segundo ele, estavam muito endividados em sua maioria, o que inviabilizava o fechamento de contratos com financiadores estrangeiros.

Já em 2015, o empresário afirma ter conhecido o ex-vereador João Emanuel Moreira Lima, que procurou Walter para lhe oferecer serviço de advocacia gratuito para tirar a restrição junto à CVM em troca de uma sociedade. Ele teria questionado como João Emanuel havia descoberto esse problema e a resposta teria sido o fato do processo ser público.

Má fama de João Emanuel

Walter contou que soube por terceiros que João Emanuel não possuía boa fama no mercado e que ele só não fazia “rolo” nos negócios em que o pai, o advogado e juiz aposentado Irênio Lima Fernandes, estivesse envolvido. “O doutor Irênio me falou que estava aposentado, mas que tinha bastante conhecimento no mercado bancário”. Dessa forma, Walter compôs o Grupo Soy com João Emanuel, Irênio e ainda o advogado Lázaro Moreira, irmão do ex-vereador.

Questionado pela juíza Selma Arruda como aceitou fazer negócios com João Emanuel, mesmo sabendo da má fama dele, Walter disse que passou a confiar quando João Emanuel conseguiu dar baixa de seu nome no CVM e também pela presença de Irênio Lima no trâmite. Outro fator foi o fato de que o réu ainda não possuía estrutura para retornar ao mercado. “Eu não tinha estrutura para tocar empresa, vou apenas ajudar em algumas partes, eu quero recuperar a minha empresa”, teria dito. “Seria mais fácil o Lázaro tocar, o Irênio tocar”.

Ele também acrescentou que “em nenhum momento, iria colocar nada no nome da esposa”, mas acabou fazendo isso porque ainda não tinha condições de atender aos requisitos para voltar ao mercado financeiro.

Após algum tempo, Walter também foi apresentado a outro réu na ação penal, o chinês Mauro Chen, que se intitulava dono de lojas em São Paulo e mineradoras e que teria interesse em adquirir garantia bancária do Grupo Soy.

Com o início das atividades da empresa no início de 2015, Walter afirmou que Mauro Chen se tornou responsável por conseguir clientes e negócios com um grupo chinês. O papel de Walter seria apenas o de avaliar o potencial de risco e de lucro de cada cliente, juntamente com Irênio.

Em dezembro de 2015, um cliente de Walter veio a Cuiabá e lhe disse que o chinês Mauro Chen estava fazendo “muita arte” lá em São Paulo e lhe entregou um pen drive com informações negativas a respeito dele. “Quando eu vi o pen drive, eu assustei porque a forma de vida dele não era de quem seria dono de um banco”, afirmou à juíza.

Somente em janeiro de 2016 é que Walter diz ter “apertado” Chen e dito para ele resolver problemas, como o fato de ter recebido mais de R$ 3 milhões em dinheiro de Walter e estar causando prejuízos à empresa. Depois disso, o chinês teria abandonado todos os clientes em Mato Grosso e desaparecido. Walter afirma que pretende acionar o chinês na Justiça fora do Brasil para reaver seu dinheiro.

Rituais com velas

Após descobrir a “ficha suja” do chinês, Walter contou que também começou a ter problemas de ordem administrativa com João Emanuel. Ele estaria passando por problemas emocionais, como depressão, e começado a faltar ao trabalho e também a assustar clientes por conta de rituais com velas e passando mel pelo corpo dentro do escritório. “Quando vi, já era tarde, os clientes estavam reclamando de surtos”.

Diante de tal situação, tanto com Mauro Chen quanto com João Emanuel, Walter afirma que tentou resolver os problemas junto aos clientes, propondo acordos e buscando outros bancos para financiar os projetos. “Quando você começa a chamar cliente pra conversar sem estrutura, sem dinheiro, começa a virar uma bola de neve. Eu demorei muito tempo pra encontrar outro banco, em julho de 2016”.

Segundo ele, foi nessa ocasião, durante uma reunião com representantes do tal banco em Brasília, é que ele foi preso na Operação Castelo de Areia, pela Polícia Civil, e até então, não teve condições de resolver as pendências com os clientes que figuram como vítimas no processo.

Admissão de prejuízo

Durante seu depoimento, ao falar sobre a participação em negócios com esses clientes lesados, o réu defendeu que não teve contato com a maioria deles, pois eram contatados por Mauro Chen e os contratos firmados por João Emanuel. A parte dele no processo seria apenas de avaliar os documentos que eram entregues e mensurar o risco e o potencial de cada um.

Apesar disso, ele admitiu que errou em colocar sua esposa no quadro social. “Foi um erro meu colocar ela [Shirley] no quadro social, a responsabilidade é toda a minha”. Também disse que errou ao fazer negócios com João Emanuel e Mauro Chen, de quem se diz vítima.

“Falar que eu não cometi erro é ser hipócrita, então, quando você é dono de uma empresa, você é responsável pelos atos de lá de dentro. Não adianta falar de João Emanuel, a sociedade já sabe quem é João Emanuel”, afirmou.

Walter acrescentou que pretende ressarcir os clientes, apesar de não demonstrar ter dinheiro para isso. Ele está preso até hoje porque não conseguiu levantar o dinheiro da fiança de R$ 6,1 milhões imposta pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

“O objetivo é resolver o problema. Não sei o que vai acontecer com meu caso daqui pra frente, mas, todas essas vítimas serão ressarcidas. Pra mim, não são vítimas, são clientes com quem eu fiz acordo. De uma certa forma, vou achar uma saída , não tenho condições, não tenho caixa, mas vamos achar uma saída pra todos esses clientes. Se tivesse que dar golpe no mercado, eu não tinha penhorado a minha residência pra poder colocar na empresa”, se defendeu.


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