Uma mãe ficou extremamente chocada ao acessar uma rede social de sua filha pré-adolescente (11 anos) e lá encontrar um e-mail: “Ei gatinha, você é linda… pode acrescentar meu nome na sua lista de amigos?”.
Era um adulto pedófilo. O desconhecido – que chama a garota de “gatinha linda” – pede para que ela o adicione e diz ter ficado “muito feliz em ser seu amigo”.
O homem também faz uma série de perguntas pessoais à garota. Além de contar ao caso ao marido, deram queixa. E a polícia conseguiu identificar o pedófilo, e pegá-lo, numa armadilha de encontro combinado. Mas nem sempre o final é feliz. Infelizmente, sabemos o resultado: uma criança violentada, com sequelas para o resto da vida.
Para além de outras mazelas às quais as crianças podem ser submetidas, como trabalho infantil, violência e maus-tratos, estão aquelas ligadas a outros tipos de exploração, como a sexual.
Nesse sentido, não apenas a prostituição infantil é um problema contemporâneo, mas também o que se conhece por pedofilia. Segundo o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde do Brasil, disponibilizado pelo Departamento de Informática do SUS (o Datasus) , pode-se considerar a pedofilia como uma preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, meninas, geralmente pré-púberes ou no início da puberdade, sendo classificada entre os transtornos de preferência sexual.
Não apenas o ato sexual com menores enseja em crime, mas também a divulgação e promoção de material pornográfico contendo crianças, conforme aponta o Artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Em linhas gerais, o referido artigo em seu conteúdo especifica uma série de ações qualificadas como atos criminosos, a exemplo da venda e exposição à venda de fotografias, vídeos, entre outros materiais, assim como oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar, por quaisquer meios (como pela internet), registros que contenham cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo crianças ou adolescentes.
O que fazer? Proibir os filhos de usar as redes sociais? Policiar seus contatos? Creio que podemos pensar em algumas alternativas- em termos educacionais e visando o crescimento e amadurecimento de nossos filhos.
1 – Proibir não é a solução. Como aponta Diana Laloni, professora da faculdade de psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), o risco da conexão está muito mais ligado à falta de educação e de treinamento das crianças. “Proibir não é saída, até porque com a disseminação da internet é facilmente possível que seu filho encontre maneiras de se conectar mesmo sem sua permissão. E é muito pior que ele faça isso sem a devida supervisão”, aconselha.
2 – Ensine (eduque) seu filho/a a saber usar a internet. Os pais precisam identificar se os filhos são ou não capazes de perceber os riscos do mundo digital, que são similares aos do mundo real. Essa capacidade, no entanto, não vai aparecer sozinha.
É preciso ensiná-lo como se comportar na rede, assim como se ensina a atravessar uma rua, a respeitar os mais velhos etc.
Como diz uma educadora: “Assim como é importante continuar recomendando aos filhos a não falar com estranhos e a não aceitar doces de estranhos, é primordial falar que ele não pode se expor na internet”.
3 – Trace limites. A educação tem limites a serem obedecidos. Filhos não podem ser criados como “reizinhos”; não têm maturidade para isso. Regras e rotinas fazem parte da educação. É importante estabelecer horário de brincar, de estudar e de comer, assim como se faz necessário determinar o horário do acesso à rede, que não se recomenda que esse tempo seja próximo ao horário de dormir. “Esse período precisa ser dedicado a atividades que acalmem a criança. A luz do computador é excitante e tende a prejudicar o sono.”, dizem os especialistas em computação. Cada um estabelece sua própria estratégia. Alguns liberam o seu próprio perfil para que o filho tenha acesso aos jogos de interesse. Outros ficam ao lado da criança enquanto ela navega pela rede.
4 – Diálogo permanente e respeito mútuo. Assim como se deve perguntar diariamente o que ele fez na escola, com quem brincou e como foi o dia, deve-se perguntar sobre suas interações nas redes sociais: com quem ele tem conversado, que jogo tem usado.
5 – Por fim, atente para mudanças de comportamento dos filhos. É um sinal amarelo importante. Mudanças bruscas de rotina, roupas, horários de estudos e de querer se isolar da família.
Três meninas, de 12, 13 e 14 anos, depois de alguns dias conversando com um estranho pelo Facebook, uma topa encontrá-lo em um parque. A segunda abre a porta de casa para o fulano. E a terceira entra no carro do desconhecido.
O que poderia terminar em tragédia é, neste caso, resultado de um vídeo de alerta para pais e jovens, sobre como é fácil para um pedófilo atrair crianças e adolescentes pelas redes sociais. Este é um tema que precisa ser discutido nas famílias. É necessário alertar os filhos para os reais perigos que estão escondidos nas redes sociais.
O vídeo foi feito nos Estados Unidos, mas tenho certeza de que se fosse aqui o resultado não seria diferente.
Talvez você ache que não tem a menor chance de seu filho/a, sua irmã, seus netos ou primos caírem na conversinha de um pedófilo, mas esse experimento prova o contrário.
AUREMÁCIO CARVALHO é advogado e sociólogo em Cuiabá.
auremacio.carvalho@hotmail.com