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Desmistificando padrões

Comparar peso, olhar para celebridades como modelo de beleza a ser seguido, é normal socialmente, principalmente entre o gênero feminino. Existe cobrança em “estar bem” e “ser bonita”.

O que seria isso? Esses são conceitos de extrema subjetividade, onde cada qual deve fazer a análise. Alguns, famosos e famosas, costumam ditar como é possível estar bem. A ditadura da magreza, por exemplo, é um monstro a assombrar mulheres.

Nas rodas sociais ocorrem as comparações. Os cortes de cabelo e penteados são seguidos, as tatuagens copiadas, as roupas servem como demonstrativo de se vestir com categoria, servindo, ainda, partes isoladas do corpo como amostra a ser copiada pelos profissionais da cirurgia plástica. Barbeis andam pelas ruas.

No curta metragem “Supervenus”, o diretor Frederic Doazan faz duras críticas aos exageros impostos pela pressão em se embelezar. A obra foi premiada em 2014 no Festival de Curtas de Bruxelas, mesmo não possuindo legenda, e com apenas dois minutos e meio de duração. O filme foi aclamado por retratar a realidade.

O Brasil é o país líder em procedimentos estéticos cirúrgicos, acrescentando a banalizada cirurgia bariátrica. A procura por estar melhor esteticamente, através de procedimentos cirúrgicos, é normal no Brasil, sendo as mulheres mais submetidas que os homens.

E, geralmente, ao se questionar uma mulher sobre o porquê de tanta intervenção médica, a resposta é clara que o descuido pode ocasionar desleixo da parte dela, e desinteresse do companheiro.

Ao folhear uma revista, ou assistir a programas televisivos, não é possível aquilatar se a imagem é real. Os “fotoshops” mostram corpos inexistentes, e imagens na telinha são modificadas para dar lugar a corpos perfeitos.

Há muito que os cabelos acompanham tendências. Se a moda é enrolado, que se enrole. Mudou para as madeixas lisas, então, alisamento e chapinha nele. Os recursos são muitos, para que a “beleza” seja comprada.

A reprodução de estereótipos de perfeição é nociva para as mulheres. Silvia Capanema, historiadora especialista em questões raciais e de identidades, discorreu sobre o tema: “O feminismo considera que os padrões estéticos hegemônicos são formas de dominação, e quem mais sofre com eles são as mulheres, principalmente não brancas e pobres. A discussão atual é como a dominação sexual, é também uma dominação econômica.”

A fotógrafa Odessa Cozzolino, através do site MyBodyGallery.com, se propôs em mostrar um acervo de fotos de mulheres reais, ou seja, de como se apresentam todos os dias.

As fotografias são guardadas com peso, altura, idade, tamanho usado nas roupas, e tipo do corpo de cada pessoa. Ao navegar pelo site, basta selecionar qual ou quais medidas deseja ver, que os corpos correspondentes aparecerão. É algo tão óbvio descobrir que nem todo mundo deve seguir determinado arquétipo de beleza. Contudo, parte da sociedade precisa visualizar, para discernir o que é fato.

Desconstruir o que já está banalizado é complicado. Entretanto, a vontade e a liberdade devem guiar os caminhos. Se o desejo é se embelezar ao extremo para satisfazer o ego, sendo algo de importância para a vida, os procedimentos ficam à disposição.

Todavia, se o anseio existe para cumprir um comando social capaz de engessar aos mais céticos, há necessidade de repensar conceitos.

Onde a violência contra a mulher acontece, qualquer padrão a ser seguido tende a fragilizar em demasia o corpo feminino. O molde a ser adotado é o de cada uma.

ROSANA LEITE DE BARROS é defensora pública estadual.


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