O governo de Mato Grosso anunciou o afastamento do coronel da Polícia Militar Airton Siqueira Junior do cargo de secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), preso nesta quarta-feira (27) durante a operação Esdras, da Polícia Civil, que apura um esquema de interceptações telefônicas clandestinas operado por policiais militares no estado. O G1 não conseguiu contato com a defesa do coronel.
No lugar de Siqueira, assume o delegado Fausto de Freitas, do Gabinete de Transparência e Combate à Corrupção (GTCC). Ele irá responder cumulativamente pelas duas pastas até que os fatos envolvendo o coronel da PM sejam esclarecidos, segundo o governo.
O coronel Airton Siqueira foi o primeiro membro da alta cúpula da PM que disse, em depoimento à Corregedoria da Polícia Militar em julho deste ano, que o governador Pedro Taques (PSDB) sabia dos grampos. Ele disse que o governador tinha conhecimento do esquema de escutas clandestinas operado pela corporação, mas negou qualquer participação no crime.
Operação Esdras
A Operação Esdras foi deflagrada nesta quarta-feira com o objetivo de cumprir oito mandados de prisão, 15 mandados de busca e apreensão e um mandado de condução coercitiva. As medidas cautelares são contra dois advogados. A condução coercitiva é contra o corregedor-geral da PM, coronel Carlos Eduardo Pinheiro da Silva.
Além do secretário da Sejudh, também foram presos o coronel da PM Evandro Alexandre Lesco, Helen Christy Carvalho Dias Lesco (mulher de Lesco), Paulo Taques (ex-secretário chefe da Casa Civil e primo do governador de Mato Grosso), Rogers Jarbas (secretário afastado de Segurança Pública), o sargento João Ricardo Soler e o empresário José Marilson.
A defesa do advogado Paulo Taques disse que não irá se manifestar sobre a operação no momento. Os demais presos ainda não se manifestaram sobre o caso. Por meio de nota, o governo disse que “recebeu com surpresa e perplexidade os fatos revelados”, mas que apoia desde o início as investigações.
Além de Siqueira, Jarbas também deve permanecer afastado do governo até que todos os fatos relacionados a ele sejam esclarecidos. O assessor dele, major PM Michel Ferronato, também teve a prisão decretada pela Justiça, mas encontra-se foragido.
Até o momento, quatro dos sete presos já passaram por audiências de custódia. Rogers Jarbas e Paulo Taques foram encaminhados para o Centro de Custódia de Cuiabá. Já o empresário José Marilson foi levado para o Centro de Ressocialização da capital. Helen Lesco foi encaminhada para a Penitenciária Feminina Ana Maria do Couto May. Os demais presos, que são da PM, deverão ser encaminhados para unidades da Polícia Militar.
Delegado Rogers Jarbas, também preso durante a operação, já havia sido afastado do cargo de secretário estadual de Segurança Pública (Foto: Mayke Toscano/ Gcom-MT) Delegado Rogers Jarbas, também preso durante a operação, já havia sido afastado do cargo de secretário estadual de Segurança Pública (Foto: Mayke Toscano/ Gcom-MT)
Delegado Rogers Jarbas, também preso durante a operação, já havia sido afastado do cargo de secretário estadual de Segurança Pública (Foto: Mayke Toscano/ Gcom-MT)
Grampos
O esquema foi denunciado à Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo promotor de Justiça Mauro Zaque, que foi secretário de Segurança em 2015. Ele diz que recebeu denúncia do caso naquele ano e que alertou o governador Pedro Taques.
Agora, a PGR investiga se Taques sabia do crime e de quem partiu a ordem para as interceptações. O governador, por sua vez, nega que tinha conhecimento sobre o caso.
Segundo consta na denúncia, políticos de oposição ao atual governo de Mato Grosso, advogados, médicos e jornalistas tiveram os telefones grampeados.
Os telefones foram incluídos indevidamente em uma investigação sobre tráfico de drogas que teria o envolvimento de policiais militares. O resultado dessa investigação, porém, não foi informado pelo governo até hoje.
Denúncia do MP
Em julho deste ano, o Ministério Público Estadual (MPE) denunciou o ex-comandante da PM, coronel Zaqueu Barbosa, e os coroneis Evandro Lesco e Ronelson Barros (ex-chefe e ex-adjunto da Casa Militar,) o tenente-coronel Januário Batista, e o cabo Gerson Correa Junior por participação no esquema de grampos. Eles foram acusados de ação militar ilícita, falsificação de documento, falsidade ideológica e prevaricação.