Estou “por demais envorvido” com a mania de fazer enxertos em plantas.
“Garrei” gosto pelo conhecido procedimento de inserir um galho de uma planta em outra da mesma espécie, antecipando a produção ou criando mais de uma variedade na mesma árvore. Meus amigos acham que é frescura. Eu também.
Eis que antes, nos encontros que tínhamos, a conversa era sobre política, crise no país, ações da Lava-Jato, cotação da soja, preço do boi, inflação, desempenho da bolsa e outros assuntos corriqueiros de empresários.
Recentemente, comecei a contar-lhes minhas experiências com enxerto de árvores frutíferas. Primeiro, foi o do limoeiro: em um mesmo pé, “plantei” quatro variedades: limão rosa, tahiti, siciliano e galego.
Questionado sobre a vantagem do experimento, disse que era pra fazer caipirinha com diversos sabores.
A historia da caipirinha, que é coisa de macho, ajudou um pouco a disfarçar a maricagem. Depois, em outro encontro, falei das jabuticabeiras que iriam produzir, em um mesmo galho, duas variedades da fruta.
Assim na metade de baixo produziria jabuticaba Sabará e, na parte de cima utro tipo, diferenciado do primeiro pelo tamanho.
Qual a vantagem disso?, perguntavam. Na verdade, nenhuma vantagem, só frescura mesmo.
Depois, foi a experiência que estou conduzindo de produzir sete cítricos em um mesmo pé. Peguei um pé de limão rosa e coloquei nele mexerica, laranja, poncã, tangeriana, limão tahiti e siciliano.
Eles ainda não deram frutos, mas todos os galhos “pegaram” e estão com ótimo desenvolvimento.
Paralelamente a isso, estou colocando saquinhos de pipoca nas goiabeiras para evitar os recorrentes bichos-de-goiaba e impedir os passarinhos e morcegos de comerem as frutas antes da mim.
Mas, ontem, aconteceu um fato totalmente comprometedor. Não tenho coragem de contá-lo para os amigos. É possível até que passem a me excluir da roda de conversa, se souberem dele.
Posso imaginar o que dirão: “Viram o que o Renato tá fazendo agora? Vocês não vão acreditar… Depois dessa, não duvido que passe a fazer tricô…”
Quer viadagem maior que um mineiro antigo, criado na roça, cultivar flores?
Pois eu, tendo encontrado uma primavera vermelha, cortei um galhinho dela para enxertar em uma lilás que tenho na chácara.
Não pegou ainda, mas a chance é grande. Só falta fazer uma selfie ao lado da planta quando ela estiver florida ou um filminho para divulgar no Youtube.
Sobre a possível maledicência deles sugerindo o tricô, acho que exageraram um pouco!
Ou não? Aos 50 anos, não imaginava que pudesse achar graça de mesclar uma primavera lilás com outra vermelha.
Pode ser que aos 80, se chegar lá, vou ser visto em lojas de aviamento, comprando linhas de variadas cores e escolhendo agulhas de diversos calibres para fazer tapetes e toalhas de mesa.
RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor em Cuiabá.