A Saúde é hoje um dos principais gargalos de Mato Grosso e, certamente, do Brasil.
Veículos de comunicação de massa trazem a cada semana, se não a cada dia, o retrato estarrecedor do descaso com a vida humana estampado em imagens de hospitais fechados ou funcionando em condições de extrema penúria, às vezes, até sem insumos básicos como gaze, equipamentos comprados e jamais utilizados, prédios insalubres com infiltrações, goteiras e bolor, pacientes amontoados nos corredores, além de carência de profissionais para o atendimento das pessoas.
Para responder a tal carência, em 2013, o Governo Federal decidiu implantar o Mais Médicos.
E o programa teve o condão de trazer para a arena das grandes discussões nacionais a questão premente da atenção básica em saúde, especialmente direcionada aos municípios e comunidades mais pobres e/ou distantes dos grandes centros urbanos que não dispunham de médicos, ou seja, às populações menos favorecidas.
Mas, e em Mato Grosso, especificamente, como vai o programa? Reconhecido como uma importante política de saúde pública, o Mais Médicos atende hoje 105 municípios dos 141 do estado (cerca de 74%).
São 230 médicos, 3 tutores e 30 supervisores vinculados ao programa atendendo em diversos municípios e levando saúde a quase 1 milhão de pessoas.
Em Mato Grosso, a UFMT é a instituição responsável por sua tutoria e supervisão, contando ainda com a coordenação da Comissão Estadual do programa, formada pelas instituições parceiras: Organização Pan-Americana de Saúde, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Distritos Sanitários Especiais Indígenas e Secretaria de Estado de Saúde.
Seu impacto para a saúde pública no estado é altamente positivo, pois além de levar assistência promove a qualificação e capacitação dos recursos humanos nas equipes de Saúde.
E tão grande é esse impacto, e a carência de serviços de saúde de qualidade ofertados à população é tão premente, que hoje já se constata uma demanda reprimida bastante significativa: mais 30 municípios mato-grossenses já solicitaram adesão ao programa, estão prontos para recebê-lo – pleito que, se atendido, elevaria o número para 135, ou seja, quase a totalidade dos municípios do Estado.
Observe-se, a propósito, que cada município que adere ao programa em Mato Grosso também adere à instituição gerenciadora, a Universidade, no que tange a seus princípios elementares: o lado de serviço (saúde) e o de formação em saúde (educação).
A expertise da UFMT, no caso, é a oferta de capacitação a quem é vinculado ao programa, isto é, além de qualificar o serviço, visa qualificar o trabalhador. Quando a Universidade se associa ao serviço, ela também tem de estar ligada às necessidades da população.
Noutras palavras: quando a Universidade participa da oferta desse programa, ela fica mais sensível ao que acontece na ponta do processo, o município, que, como se sabe, é onde as coisas de fato acontecem, onde se dão as dores e as alegrias das pessoas.
Essa visão é hoje, na UFMT, um dos pressupostos mais claros na gestão da Reitora Myrian Serra.
Porém, infelizmente, o processo de expansão do Mais Médicos no país encontra-se travado. Travado porque o Ministério da Saúde não está acolhendo novas adesões de municípios.
O atual governo teve, sim, o bom senso de mantê-lo, pressionado pela enorme demanda, pela aprovação popular ao programa e, talvez, por não contar hoje com alternativas a ele.
Creio que este é um ponto que merece reflexão. O governo deve rever essa posição, atendendo ao clamor de tantas pessoas que precisam e dependem do Mais Médicos, e tentar melhorá-lo.
Se o programa não fosse bom, não teria a adesão que tem no estado e não teríamos a fila de municípios que desejam contar com ele. A desinteligência política não deve ser fator impeditivo para fortalecer uma coisa que tem assim tão ampla aceitação.
Muita coisa precisa ser feita pela saúde em Mato Grosso. Mas este é um bom programa.
FABRÍCIO CARVALHO é diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica da UFMT.