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Assassinatos

Um documentário, “A Guerra do Brasil”, mostra que foram assassinadas 786.870 pessoas no país em quinze anos (2001 a 2015). Um assassinato a cada dez minutos. Número assustador, sem paralelo no mundo.

Acrescento outros números, todos tirados do documentário e de reprodução em jornais de circulação nacional.

Em 15 anos, os assassinatos no Brasil superam todos os assassinatos havidos no mesmo período em oito países sul-americanos juntos.

Se juntar também os 28 países da União Europeia, no Brasil se matou mais gente nos mesmos 15 anos.

O terrorismo no mundo matou, entre 2001-2016, 238 mil pessoas. Na Síria, que enfrenta uma guerra com quatro grupos diferentes se pegando, morreram, entre 2011-2017, em números redondos, 331 mil pessoas. No Iraque, entre 2003 e 2017, foram 268 mil mortes.

Um exemplo mais perto de casa. Aqueles assassinatos no Brasil é como se fosse dizimada a quase totalidade da população de Várzea Grande e Cuiabá juntas em quinze anos.

Voltando ao documentário. Pegaram o ano de 2014 e deram uma volta pelo mundo. No Brasil, naquele ano, foram assassinados 60.474 indivíduos. Na Índia, com 1.2 bilhões de pessoas, mataram 41 mil indianos.

No México, foram 20 mil, na Venezuela 19 mil e na Colômbia 13 mil. Nos EUA, com 300 milhões de habitantes e onde todos podem ter armas, mataram 14 mil.

Encabula o número da China, país com 1.3 bilhões de habitantes, mataram “apenas” 10 mil.

Juntando Mato Grosso nesse assunto macabro, segundo o Atlas da Violência, perderam a vida por assassinato 9.134 pessoas entre 2004-2014. Cuiabá e Várzea Grande entraram com quase um terço desse número.

De 2015 para cá, diminuiu um pouquinho essa chacina estadual.

O documentário mostra ainda que 63% dos assassinados no Brasil eram de pardos (55%) e negros (8%). Que 56% eram jovens até 29 anos. Homens assassinados foram 91% e 70% dos crimes foram por arma de fogo.

Como o Brasil não discute um tema desse porte? Saber os motivos da tragédia para tentar minorar essa chaga que estonteia o mundo inteiro. Só se tem perguntas, é o que faço agora também.

Seria por causa da pobreza e desigualdade? Mas a Índia e a China, com mais pobres que o Brasil, não tem aqueles números de mortos.

Seria a Educação? Mas não se fala tanto que o país já universalizou o ensino básico ou que a quase totalidade dos jovens estão nas escolas?

Talvez o prende e solta do Judiciário ou a atuação não adequada das forças de segurança?

Seria a indiferença da classe média e da elite nacional que veem os assassinatos como algo distante, que matam pobres nas periferias das cidades?

Se for, essa indiferença é muito burra, os crimes estão chegando perto das casas de todos.

Sei lá a resposta, o que encabula é como um assunto desse tamanho não mereça uma atenção maior do país inteiro.

Tem algo estranho nesse momento nacional anestesiando a nós todos, você não acha?

ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.

pox@terra.com.br

www.alfredomenezes.com


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