"> Natal, pérolas e porcos – CanalMT

Natal, pérolas e porcos

Não se trata da Família Pig do desenho na TV, e sim de nós mesmos, ditos humanos, cidadãos.

As coisas em si são boas e belas, pérolas para benefício da Humanidade, mas caídas em mãos humanas é preciso sorte para que não virem lama.

Parece que confundimos o barro bíblico que nos modelou com a lama fétida dos chiqueiros e, por isso, também busquemos a lama para nosso destino enquanto espécie, levando junto tudo o que tocamos. Temos uma notável atração pela porcaria.

É difícil iniciar um texto assim, em especial para quem, às vezes, é criticado justamente por ser otimista e esperançoso, condições, aliás, indispensáveis ao arquiteto e urbanista. Contudo, pensando bem, ao contrário do que parece, não existe ocasião mais propícia.

O Natal ensina que a origem e destino do homem são divinos e não porcos, lembrando a chegada de Deus feito homem para nos ensinar a grande lição, o homem é filho de Deus, obra divina, criado para o bem, para o belo e para o justo.

A cada Natal, renasce essa esperança do reencontro com o divino e a certeza de ser esse o caminho.

Enquanto isso, todos vimos o que foi feito da “Casa de Bem Bem”. Uma pérola da cultura mato-grossense, uma joia a ser conservada e reverenciada com carinho. Nada mais compatível aos porcos do que destelhar a casa em pleno período de chuva e parar a obra!

Na certa, a taipa socada exposta à chuva daria uma boa lama em pleno centro histórico de Cuiabá, área tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional por sua importância nacional.  E não adianta jogar a culpa nas porcas autoridades responsáveis.

Tal crime só aconteceu porque somos complacentes com a porcaria, deixando que ela avance em seu chafurdar.

Expresso minha indignação na rede social, escrevo um artigo, desopilo o fígado e fica por isso mesmo.

Logo os porcos nos indignarão de novo. Se a cada avanço da porcaria tivéssemos uma reação de fato contundente e objetiva, ela não avançaria.

Nossa leniência também nos faz porcos, ao menos cúmplices da porcaria que assola Cuiabá e o país.

Também assistimos complacentes ao absurdo da profusão dos cabos desativados pendurados nos postes da cidade. A porcaria é também aérea.

Falam que a prefeitura não pode fazer nada porque não existe lei que obrigue as concessionárias a retirar os cabos obsoletos. Elas, que já deviam ter rebaixado a fiação em muitas áreas da cidade, agora querem usar nossa paisagem como lixeira.

A mesma lei que proíbe o cidadão deixar seu lixo nos logradouros públicos não serve para elas? Presente do Tricentenário?

Esperam que algum motoqueiro seja degolado por um desses fios atravessados pelas ruas?

Depois virão as lágrimas de crocodilo pela vítima e as promessas de “providências  enérgicas” para que o fato não se repita, lágrimas falsas que o bom português traduz como “de hoje para trás, nunca mais.”  E fica tudo assim.

Todos sabemos da podriqueira que virou nossa tão sonhada democracia, com os políticos chafurdando felizes às nossas custas.

Às vésperas do Natal, as câmaras de Cuiabá e Várzea Grande criaram o 13º salário para os vereadores. Falam que é legal, mesmo afrontando a Moralidade, um dos princípios da administração pública no país. Pode?

E o que fizeram com a Copa, a maior oportunidade de investimentos jamais vista por Cuiabá?

Um retrato disso é o novo desbarrancamento da cabeceira da Ponte do São Gonçalo, trajeto que se tornou indispensável a boa parte dos cuiabanos.

Desculpem-me os porcos, hoje suínos, limpos, por compará-los aos que insistem em querer ser porcos, apesar de sua origem divina.

JOSÉ ANTONIO LEMOS DOS SANTOS, arquiteto e urbanista, é membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU/MT) e professor universitário em Cuiabá.

joseantoniols2@gmail.com 


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