Dia 20 de dezembro, houve encontro em Cuiabá entre autoridades da Bolívia, de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul.
Na continuação, técnicos dos lados em conversação se reunirão várias vezes na primeira quinzena de janeiro.
No dia 15, em Cuiabá, se terá o encontro final para definir as regras dos acordos que, se tudo der certo, deverão ser assinados num grande evento na Bolívia, no dia 30 de janeiro, com a presença do presidente Evo Morales.
Acordo sobre compra da ureia, por exemplo. A Bolívia produzirá por ano umas 700 mil toneladas de ureia.
Mato Grosso, sozinho, hoje já consome acima de um milhão de toneladas por ano, deve chegar logo a 1.5 milhões de toneladas. Poderíamos, se o preço for conveniente, comprar toda produção da Bolívia.
Num outro acordo, mais importante que a compra da ureia, há sinalização dos bolivianos em assinar um contrato firme para trazer gás até a termoelétrica em Cuiabá.
Mas pedem sociedade na termoelétrica. Todos que conversei no Estado concordam se não faltar mais gás na usina. Que serviria para a indústria no Estado, incluindo a ZPE em Cáceres.
Os bolivianos querem também vender gás de cozinha (GLP) para os dois Mato Grosso.
O gás no Brasil custa 30 dólares o bujão, eles vendem lá por três dólares. Com frete e impostos, o gás de cozinha poderia chegar aqui com um preço 50% menor que se vende hoje. Aquela sociedade do gás se estenderia também nessa venda.
Tenho duvidas se a Petrobras, que detém o monopólio do gás de cozinha, vai permitir essa competição. Desmoralizaria nacionalmente os preços praticados pela empresa brasileira. Se não tiver o acordo desse gás, os bolivianos recuariam do outro?
Disseram os bolivianos também que estão em tratativas com o Banco Mundial para um empréstimo de 300 milhões de dólares para asfaltar os 300 km da rodovia entre San Matias e San Inácio. Se ocorrer, MT estaria em todos os países dos Andes.
Em conversa fora do encontro oficial, levantei a hipótese da estrada não sair porque Evo Morales beneficiaria seu adversário politico, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas.
Responderam que a tática do Evo agora é outra: seria conquistar eleitoralmente a região de Santa Cruz com essa obra até MT. Será mesmo?
Mais dois assuntos ali tratados. Eles topam discutir sobre violência e tráfico de drogas na fronteira.
Se sair mesmo algo por aí, seria outra enorme vitória deste momento. E talvez saia, até o encontro do dia 30 de janeiro, a licença boliviana para o voo entre Cuiabá e Santa Cruz de la Sierra.
Vivencio essa aproximação com os bolivianos desde muito tempo. Tinha momento que parecia que a coisa ia andar e nada acontecia.
Mas, sei lá, vê-se agora algo diferente no ar. A alavanca é a enorme necessidade deles em venderem a ureia para MT.
É aguardar até o dia 30 de janeiro para ver se acordos serão assinados.
Rezar talvez ajude um pouco.
ALFREDO DA MOTA MENEZES é historiador e analista político em Cuiabá.