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A Justiça e a Política

Se ainda houvesse alguma dúvida sobre a incorreção da afirmativa que o voto consciente tem o poder de eliminar os maus políticos, não há mais.

A pesquisa do Data Folha  desta semana confirma que o “voto consciente” da maioria do eleitorado brasileiro reconduziria à presidência o petista Lula da Silva.

Essa disposição de reeleger pessoas comprovadamente corruptas mostra bem o atraso de nossa democracia, pois esses governantes eternizados nos cargos  são os menos indicados para modificá-la.

Se os políticos nunca vão melhorar a democracia e o senso comum repete que sem a política não há salvação, como vamos sair dessa armadilha?

Por certo só a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal têm condições de mudar essa situação. Paulo Maluf ficou a vida toda sendo eleito e reeleito mesmo com o conhecimento geral  de sua notória imoralidade. Somente agora, aos 86 anos de idade, deixou o Congresso, não porque os eleitores que sempre votaram “conscientemente” nele o abandonaram, mas  porque a justiça o tirou de circulação.

Outro caso: Ninguém duvida que o ex-deputado Eduardo Cunha seria outra vez eleito no Rio de Janeiro se não estivesse guardado em Curitiba, onde deverá passar muitos invernos chuvosos, curtindo a saudade das ensolaradas praias cariocas.

Ainda,  Sérgio Cabral, Henrique Eduardo Alves,  Jorge Picciani,  Gedel Vieira Lima, Luiz Argôlo, André Vargas,  Antônio Palocci  etc seriam facilmente reconduzidos aos seus cargos se não estivessem presos.

Um caso aqui de nosso estado: Ninguém duvida que o ex-deputado José Riva voltaria ao cargo  pela 6ª vez se pudesse candidatar-se. Seus “lúcidos” eleitores, que lhe garantiram o poder por 32 anos, por certo o recolocariam na Assembleia mais uma vez como campeão de votos no Estado.

Também é bom lembrar do nefasto Fernando Color que mesmo afastado  da presidência da república totalmente desmoralizado, elegeu-se senador por Alagoas, e agora, respondendo a processos sobre desvios de dinheiro público, confiante no “discernimento” dos eleitores que o elegeram senador, lança-se candidato à presidência.

E o Lula? Depois de arrasar as finanças do País o que poderia ser somente  incompetência, foi condenado a 12 anos de prisão ( por enquanto ) por corrupção e lavagem dinheiro e mesmo assim mantem milhões de seguidores, que declaram   “conscientemente” a preferência eleitoral por ele. A pesquisa citada acima, feita depois da condenação, garante que o petista ganharia de qualquer um dos prováveis concorrentes.

Volto à tese inicial. Essa história de que “voto consciente” com o tempo vai transformar a política do Brasil, é totalmente descabida. Há mais de 50 anos ouço isto, sem nunca perceber essa tal  “sabedoria popular.” Os mais de 100  Senadores e Deputados Federais denunciados na Lava-Jato, os vinte e tantos Parlamentares aqui de Mato Grosso citados e filmados recebendo dinheiro sujo, os Vereadores metidos em recorrentes velhacarias continuarão firmes nos mandatos se depender dos “conscientes  eleitores”.

Somente o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça têm a possibilidade de  despoluir a política brasileira. O povo que é sábio no jargão dos candidatos, nunca fará isso, o que explica o interesse dos políticos profissionais em atribuir-lhe essa virtude.

A consciência eleitoral é qualidade rara e mal distribuída, entretanto tal qual o bom senso, todos  julgam ter dela a quantidade suficiente.

RENATO DE PAIVA PEREIRA é empresário e escritor


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