A segunda perícia da Polícia Federal em Mato Grosso confirmou que mensagens do celular do ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), foram apagadas horas depois que os aparelhos foram apreendidos por agentes da PF durante a 12ª fase da Operação Ararath, denominada Malebolge, em 14 de setembro do ano passado. A suspeita é que provavelmente as mensagens foram deletadas de maneira remota, ou seja, de um outro dispositivo.
A perícia consta no segundo relatório parcial da PF assinado pelo delegado responsável pelas investigações da Ararath, Wilson Rodrigues, e que foi encaminhado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e àa procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
“Foram encontrados registros na seção ‘Linha do Tempo’, presentes no relatório, em que são exibidos diversas marcações de mensagens instantâneas deletadas”, diz trecho da perícia.
De acordo com o relatório, essas mensagens foram apagadas até a data de 14 de setembro de 2017, às 20h36. Nesse horário, os 2 celulares do ministro Blairo já estavam apreendidos e lacrados pela PF.
Para os investigadores, essa seria uma prova concreta de que Maggi tenta “embaraçar” as investigações sob um suposto pagamento de R$ 6 milhões para que o ex-secretário do estado de Mato Grosso, Eder Moraes, para mudar o seu depoimento junto ao Ministério Público Estadual (MPE).
A suspeita já teria sido detectada na primeira perícia e agora, confirmada na segunda perícia. No entanto, os peritos não conseguiram detectar de onde teria partido o comando para apagar as tais mensagens e de onde.
Blairo Maggi é investigado em uma suposta tentativa de obstrução da justiça. De acordo com a delação de Silval Barbosa, Eder teria cobrado R$ 12 milhões para mudar o depoimento feito no MP sobre o esquema de compra de vagas no Tribunal de Contas do Estado (TCE) com aval do então governador Maggi em 2009. E que, diante disso, Blairo e Silval combinaram repassar apenas R$ 6 milhões, em duas parcelas de R$ 3 milhões.
A PF ainda aponta outras duas tentativas de obstrução das investigações. Entre o final de 2013 e começo de 2014, quando a Ararath estava em seu início, Maggi teria, segundo a PF, indicado a contratação do mesmo advogado para os investigados no âmbito da Ararath com o fim de unificação de versões e linhas de defesa.
A outra tentativa teria sido a visita do senador Cidinho Santos (PR) no ano passado, quando o ex-governador Silval Barbosa estava preso e iniciava as tratativas para a sua delação premiada. Segundo a PF, a visita teria sido a pedido de Maggi, já que a notícia da possível delação de Silval já tinha sido divulgada amplamente pela imprensa.
Silval chegou a gravar a conversa. “Do teor do diálogo denota-se a intenção de dissuadir Silval Barbosa da ideia de colaborar com as autoridades, acaso de fato existente”, diz outro trecho do relatório que ainda pede para que as investigações sejam prorrogadas para que o ministro Blairo Maggi e outros envolvidos sejam ouvidos pelos investigadores.
A defesa de Blairo Maggi nega os crimes apurados e a possível tentativa de obstrução.