"> Mendes e Taques – CanalMT

Mendes e Taques

Compreende-se o afã do governador eleito Mauro Mendes; pode-se ouvir tanta bobagem e palavras cítricas; entende-se os porquês da divulgação precipitada das contas públicas com os números que sua equipe diz ter identificado; concorda-se e assente-se com o fato de que há mais problemas a superar que projetos a cominar.

Os recentes e contínuos bate-bocas e excessivas investidas contra seu ex-aliado, o antes dileto e atual governador Pedro Taques, entretanto, é contraproducente e já passou dos limites. Mendes e Taques agiram e ainda agem publicamente como ‘nigrinhas’. É um mau exemplo para homens públicos, principalmente às vésperas da troca de comando do Estado. Ambos, e mais Mendes – mais ácido, deveriam ter um pouco mais de compostura.

Com erros e acertos, o governo Taques avançou. Após receber o caixa do governo em 2014 com um rombo orçando mais de quatro bilhões de reais, dezenas de contratos suspeitos e uma infinidade de obras paradas (incluindo as do VLT), ele deixará pouco além de um bilhão de reais negativos para o seu sucessor. Ainda  é muito, mas o capeta não é tão encarnado como se pinta, ou como alardeia o futuro governador. Nem tudo foi tão ruim no atual governo, como nem tudo foi tão bom. Na prefeitura, entre 2013 e 2016, Mauro Mendes, também, até que nem foi tão belo assim.

Mendes, é bem verdade, saiu do Alencastro com aprovação elevada. Uma parte fruto da sua gestão, outra parte resultado da alquimia silenciosa de Kleber Lima, o então secretário que, juntou em perfeita simbiose o bom relacionamento com a imprensa, sua com invejável capacidade de provocar e vedar vazamentos e o seu notório feeling para transformar oito em oitenta e dourar a pílula. Minucioso, o então secretário exibia publicamente o que deveria ser posto, enquanto desbotava o que não interessava à imagem do prefeito. Simples assim.

Em 2013, na aurora da sua pose como prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes postou-se onisciente, bicudo, como repete agora. Falou o que não devia, destilou críticas, aos montes, contra o predecessor Chico Galindo, aquele que não era inteiramente perfeito e nem  100% ineficiente ou incapaz.

O cabeçalho de empresário bem-sucedido deu a Mendes o dom de ver, naquele tempo, um amontoado de erros, frincha no caixa, fazendo consumir  alguns meses resmungando e cobrindo de censuras o então ex-prefeito Galindo. Até que alguém, sabe-se lá quem, o conteve.

A sua gestão na educação, por exemplo, foi de acertos e erros. Ora, algumas escolas deixadas pelo seu governo municipal, em 2016, estavam em petição de miséria. As unidades Jescelino Reiners, Ulysses Guimarães, Floriano Bocheneki, Quintino Pereira de Freitas ou Elza Luiza Esteves, para citar alguns exemplos, são algumas das 16 unidades cujo ano letivo foi protelado por absoluta falta de condições das estruturas físicas. Problemas não faltavam. Emanuel Pinheiro que o diga.

Nesse interim, nessa pasta, Mendes, sob a maestria do secretário e marqueteiro Kleber Lima, se valeu dos 14 Cmeis construídos e mantidos pelo governo Dilma Roussef para contrafazer um exemplo de sucesso pela educação.

Ainda assim não se pode negar a amostra satisfatória da gestão Mendes como prefeito, principalmente pelos cartões-postais: Parque das águas, a reurbanização da Beira Rio, no Porto, e avanços na saúde, inclusive a iniciativa do Novo Pronto Socorro. Melhoramentos em pavimentação vieram, em grande escala, do projeto “Poeira zero”, de Galindo, e das obras do inesquecível Silval Barbosa, com recapeamento e  implantação asfálticos da Copa 2014, aqui em Cuiabá.

Ainda relembrando a figura de Kleber Lima, Taques o teve como secretário, quando a imagem do governo, pós-greve longa e causticante do RGA, até que melhorou e os índices de aprovação ascenderam. Mas, contumaz e marrento, o governador tapou os ouvidos para seus palpites e o desligou do governo, preferindo ouvir as ideias salobras de Ana Rosa, adjunta de Comunicação (Gcom), e de Paola Reis, uma assessora sabe-se lá do quê. E deu no que deu.

Cada gestor tem lá suas burradas e seus acertamentos, seus méritos, seus ajustes e suas realizações. Cada qual sua importância. Mendes, ao que fala, parece pensar ser Odin, aquele impávido Deus nórdico que exalava infalibilidade. Como governante, agora que em maiores dimensões, Mauro Mendes deverá, antes e dentro, sucumbir à situação de que tem muito talento e capacidade – o que é inegável, mas que não está imune a erros e resultados ruins em alguns setores. Juntou um grupo não tão notável, mas tem quatro anos para não “cometer tantos erros como Taques”.  Pode até fazer melhor. Mas, exceto Deus, ninguém pode ser totalmente perfeito. A esse respeito,  penso que apenas e tão somente alguém com o dedo limpo, mas muito limpo mesmo, é que pode se dar ao conforto de apontar os defeitos, falhas e até as sujeiras de outrem.

JORGE MACIEL é jornalista em Cuiabá.


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