Muito se tem discutido entre a vida fácil, simplória, de pessoa sem comportamento elevado, e a vida daquelas de pensamento responsável, que se dedicam à reflexão.
Bentham, que ao lado de Mill ocupa o lugar de destaque na defesa do utilitarismo, resumia tudo a um cálculo primitivo de prazer e dor. Essa seria a fórmula das evidências de escolhas humanas. O homem e a mulher optam pelo caminho que lhes dão prazer, a utilidade reside nisso.
Mas entre o pensamento dos dois filósofos citados tem uma singular diferença: um é mais pragmático e o outro destaca o ideal moral da dignidade e da personalidade humana. Mill representa o último, salva o utilitarismo como pensamento filosófico moderno.
Quando em textos anteriores escrevíamos sobre os masoquistas e sádicos, o parâmetro de avaliação se concentrava, de forma irônica, exatamente na maior ou menor interação na escolha entre prazer e dor.
Quanto mais conhecimento que o indivíduo tem, a tendência de sua escolha tende para padrões mais elevados, aumentando o próprio stress social. Por ser mais crítico e de axiologia mais aperfeiçoada, sofre mais com as vicissitudes diárias, com as análises da língua solta, irresponsável.
O ignorante, é ignorante, nada mais. Vive feliz na academia, em ver seus músculos mais torneados, o carrinho mais limpinho e potente, e adora, mas como se regozija com isso, as comparações em que o material se sobreleva ao espírito e a alma.
O homem e a mulher, de estatura moral, sofrem. Os julgamentos apressados, as atitudes antiéticas, a falsa coragem, o moralismo fingido, os fazem masoquistas. Sofrem por opção pelo conhecimento e reflexão.
Em imperdível obra – Justiça-, Michael J. Sandel provoca: “Os desejos de facto não são mais a única base para julgar o que é nobre e o que é vulgar. O padrão atual parte de um ideal da dignidade humana independente daquilo que queremos e desejamos. Os prazeres mais elevados não são maiores porque os preferimos; nós os preferimos porque reconhecemos que são mais elevados”.
Os utilitaristas têm razão. Mill os salvam do pensamento estreito ao avançar sobre as escolhas morais. Prazer e dor como opção, com a tendência do menos racional pelo primeiro.
Cabe àqueles que sentem as agruras da injustiça, de forma mais crítica e não leviana, a dor dos masoquistas. Muitíssima espiritualizada que o prazer dos sádicos; e dos inocentes que nem sabem o que é isso.
É por aí…
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO é juiz em Cuiabá.