Entra e sai ano e os questionamentos tem sido os mesmos. A violência contra as mulheres diminuiu ou aumentou? Quantas denúncias foram feitas? As mulheres continuam renunciando ao direito de representação? Porque isso tudo persiste?
É certo que a violência contra as mulheres não aumentou, e, infelizmente, também não diminuiu. Ela, a violência, continua a mesma. Basta conviver cotidianamente em sociedade para vislumbrar que a tolerância feminina foi a única mudança, de fato, visível.
Com a independência das mulheres, fruto dos movimentos feministas, as agressões a mulheres são vistas como absurdos no mundo atual. Antigamente, se perfazia em algo comum expressões patriarcais, tal como “chefe de família”. O pai, figura distante, provedor, era visto como verdadeiro “cacique” nos lares, a quem era garantido a última palavra. Ainda que a genitora dissesse alguma coisa, a chegada do progenitor definia os destinos familiares. E essa “gerência” do homem a tudo, todas e todos, o fez ganhar status de comando.
Assim, o trabalho de somenos importância deveria ficar para as mulheres. E, de outro turno, as funções que demandam um cuidado maior, seriam dos homens.
Nos primórdios apenas eles, os homens, eram incentivados aos estudos. Também ganharam confiança social para o labor fora de casa. Já as mulheres, apenas na época do renascimento puderam começar a administração do lar. Quem dirá o trabalho fora de casa…
Uma inverdade contada diversas vezes, passa a ser realidade. Relataram, por anos a fio, a incapacidade feminina. Afirmaram que as mulheres são maldosas e difíceis de conviver. A fragilidade também foi usada como sinônimo feminino. E aí, como confiar em pessoas e profissionais do gênero feminino? A batalha feminista para desmistificar e quebrar paradigmas tem sido atroz. Em tempos atuais, após tanta demonstração de competência da mulher, desafios aparecem como na época das cavernas…
Retrocesso? Não. Os direitos humanos vedam atrasos. Porém, voltando à realidade, é possível ouvir de mulheres: “Ele é nervoso, por ser homem”, “Ele só tem um pouco de ciúme”, “Prefiro ficar calada para não o deixar mais nervoso”. Na atividade econômica, tanto pública quanto privada, é costume o gerenciamento masculino. Quando uma mulher alcança o comando, tem que provar a sua competência para estar na função diuturnamente.
Justamente pelo esposado, a violência contra as mulheres persiste. Não há diminuição visível ano a ano. Há, sim, aumento das estatísticas policiais pelo inconformismo das mulheres em continuar sendo vítimas. Aquelas que conseguiram a independência econômica dificilmente se submeterão a homens agressivos. As leis afirmativas vieram para diminuir essas desigualdades. A garantia da aplicação dessas normas ainda é desafio.
Isabel Allende, com acerto, foi enfática: “O feminismo não alcançou seus objetivos, mas deu início a uma revolução que não tem como ser interrompida.”
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.