Com as seguintes frases, fui desencorajada a atividades domésticas: “Dá licença, filha.” “Filha, sai daí, vai se queimar.” “Cuidado, o chão está molhado, depois te chamo, vá para lá.” “Te mostro outro dia o funcionamento da máquina de lavar.”.
Vivi e convivi com mães pós década 70, que valorizaram sobremaneira o estudo dos filhos e filhas. O temor das genitoras e genitores daquela época era que as filhas não se capacitassem para o trabalho fora do lar.
Com o advento da segunda onda feminista, e a demonstração que o corpo feminino deve pertencer à mulher, ficou subentendida a necessidade de conseguir um “lugar ao sol”. Incentivar às lides domésticas seria um contrassenso daquele período. Enquanto no início da década de 20 as mulheres deveriam ser preparadas para o casamento, após 70, elas recebiam incentivo para o estudo e capacitação para o mundo do trabalho. Na atualidade é comum escutar de mulheres de qualquer idade: “Não sei cozinhar”.
O meu sogro, deputado Gilson de Barros, falava constantemente às suas filhas: “A casa do pai será sempre de vocês. Não tenham medo de voltar a qualquer momento, se algo der errado. (…) O estudo é muito importante para a felicidade no casamento, também.” Queria que as mulheres de sua família fossem estimuladas ao conhecimento, tanto quanto os homens. Disso ele não abria mão.
Na atualidade, as mulheres conseguiram estar em todos os “guetos” antes apenas ocupados pelo gênero masculino. Assim, como lhes é de direito, retardaram a vontade de exercer a maternidade. Corriqueiro encontrar mulheres que começaram a atividade materna após os 40 anos.
Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, 48% das mulheres são demitidas na volta da licença maternidade. Com desculpas pouco convencedoras, as empresas descartam empregadas que possuem filhos e filhas. Passam, muitas vezes, por questionamentos constrangedores, que podem redundar, inclusive, em assédio moral. “Você terá a mesma disponibilidade após o nascimento da criança?”. “Deseja continuar amamentando?”. “Terá com quem deixar o filho ou filha?”.
Antes da contratação pela iniciativa privada, não raro, mulheres ouvem: “Deseja ter filho por esses anos?”. Até mesmo em cargos em comissão pelo Poder Público, alguns relatos de perguntas estapafúrdias, é possível escutar.
A capacidade, a competência, os cursos e especializações, em algumas oportunidades, sedem lugar à escravização. Ainda que o direito trabalhista atenda aos reclamos da trabalhadora, com direitos a licença por doença, férias, licença maternidade, descanso semanal remunerado e tudo o mais, pouco respeito é vislumbrado ao gênero feminino.
Em razão da condição, pela possibilidade de gerar, as mulheres seguem tentando se reinventar, aceitando jornadas exaustivas, para não escutar qualquer desculpa para a dispensa ou demissão.
Fica a dica de Lela Brandão: “Tudo que os homens conseguem fazer, eu consigo fazer sangrando”.
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual.