Uma das faculdades mais importantes que a inteligência nos permite é a de fazer escolhas. O ser irracional não escolhe, age por instinto. O humano inteligente reflete, analisa, pondera e decide.
Naturalmente, algumas escolhas são feitas sob impacto de emoções: por exemplo, a escolha do nome de um filho. Nela se confundem múltiplos sentimentos, desde o desejo de homenagear a memória de algum ascendente ou de uma personalidade marcante ou, ainda, de uma referência religiosa até a esperança de que um nome considerado mais atraente possa favorecer um destino melhor para o recém-nascido.
Nas primeiras décadas do século passado, muitos pais, empolgados com suas preferências ideológicas, batizaram meninos com nomes de líderes que julgavam exemplares como Hitler ou Stálin. A descoberta dos monstruosos crimes de ambos ocorreu na adolescência ou no início da vida adulta de tais pessoas, possivelmente lhes causando embaraço ou vergonha, ou até prejudicando sua carreira profissional.
Algumas escolhas feitas pelos pais são fundamentais como a da escola em que matricularão suas crianças: pública ou privada, leiga ou confessional, adepta dessa ou daquela corrente pedagógica. Especialmente nos primeiros anos de vida, a escola é o espaço onde as crianças têm a experiência de conviver além do seio familiar e a escolha desse ambiente influenciará bastante a sua formação e desenvolvimento.
Há escolhas que provocam consequências apenas para quem as fez, como a quantidade de açúcar ou de sal no alimento. Há outras que impactam o núcleo familiar ou comunitário, quando se escolhe uma profissão ou uma pessoa para ser a nossa companheira ao longo da vida. E há aquelas que impactam uma coletividade, como na escolha de nossos governantes e parlamentares.
Nem sempre temos absoluta liberdade de escolha. Muitas vezes somos limitados por restrições econômicas, orçamentárias ou legais. Desejava-se escolher em determinado sentido, mas não há recursos ou há uma norma impeditiva. Em outras ocasiões, nossas escolhas são prejudicadas pela ausência de informações adequadas ou pela falta de tempo para avaliar com calma as opções disponíveis. A pressa e a imprecisão comprometem boas escolhas.
Há também situações em que não escolher já é uma escolha, mas às vezes é a pior das escolhas.
Um dos mais célebres exemplos de uma má escolha e que impactou a história mundial foi quando Napoleão na véspera da batalha de Waterloo decidiu separar um terço de suas tropas para perseguir os prussianos e impedi-los de se unirem ao restante do exército inimigo comandado por Wellington. A estratégia estava correta, mas Napoleão errou na escolha do general a quem confiou essa decisiva missão. Centenas de livros comentam esse episódio, mas, dos que conheço, o meu favorito é o poema de Victor Hugo que relata a reação de Napoleão quando, após horas de batalha e dezenas de milhares de mortos sem resultado definido, observou ao longe o barulho e a poeira de novos contingentes se aproximando. Finalmente! pensou. Mas aquele não era o reforço para o exército francês e sim os prussianos que haviam iludido seu general e se juntavam aos ingleses, russos e austríacos para pôr fim ao seu Império. A passagem da euforia ao desespero foi magistralmente descrita nos versos de Hugo. Aquele general era competente e leal, mas não foi a escolha certa para a difícil missão. Uma escolha equivocada num momento decisivo produziu a queda fatal de um dos maiores gênios militares e políticos da história.
Mato Grosso hoje sofre muito com as graves consequências de algumas escolhas desatinadas efetuadas na última década, como a troca do modal BRT para o VLT no transporte urbano de Cuiabá-Várzea Grande ou a malsinada dolarização da dívida pública estadual. Agora, é necessário escolher que caminhos trilhar para corrigir os erros pretéritos.
Que Deus ilumine as nossas escolhas e as de nossos governantes e representantes para que sejam sempre inspiradas pelos mais nobres sentimentos de justiça, honestidade e amor ao próximo.
LUIZ HENRIQUE LIMA é conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT).