O presidente do Senado da Argélia, Abdelkader Bensalah, foi nomeado nesta terça-feira (9) presidente interino do país, uma semana após a renúncia de Abdelaziz Boouteflika. A decisão é constitucional, mas contrária ao desejo dos argelinos que exigem o fim do regime de Bouteflika, de quem Bensalah era aliado.
Reunido em sessão plenária, o Parlamento nomeou Bensalah para chefe de Estado por 90 dias. Após esse período, uma eleição presidencial deverá ser organizada e ele não poderá ser candidato. Bensalah tem 77 anos e é presidente do Conselho da Nação, equivalente ao Senado, há quase 17 anos.
“Vou trabalhar pelos interesses do povo. É uma grande responsabilidade que a Constituição me impõe”, disse Bensalah ao Parlamento.
Nesta terça-feira, por volta do meio-dia, milhares de estudantes argelinos ocupavam as ruas do centro da capital para gritar “fora, Bensalah!”, de acordo com a agência AFP. Pela primeira vez em semanas de protestos a polícia tentou dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo.
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Polícia dispara jatos de água em manifestantes contra nomeação de Bensalah nesta terça-feira (9), na Argélia — Foto: Stringer/AFP
O principal partido islamista da Argélia, o Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), que apoiou Bouteflika por um tempo antes de romper com ele em 2012, anunciou na segunda-feira que iria boicotar a sessão parlamentar por sua “posição contrária às exigências do povo”.
Quem é Bouteflika?
Bouteflika, de 82 anos, governou o país nos últimos 20. Mas um derrame sofrido seis anos atrás o debilitou severamente, o que fez com que ele quase não aparecesse mais em público. Com um aumento da pressão popular ele desistiu de uma possível reeleição, renunciando ao cargo na semana passada.
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Abdelaziz Bouteflika, presidente da Argélia, em foto de março de 2019 — Foto: Algerian TV/Handout via Reuters
Como explica a colunista do G1 Sandra Cohen, Bouteflika é comparado a um monarca, apesar do mérito de ter encerrado a guerra civil em 2005. As decisões de governo cabem a um grupo, conhecido como Le Pouvoir (o poder), concentrado em generais, políticos e empresários. Said, irmão mais novo de Bouteflika, comanda a coalizão.
As manifestações começaram na Argélia quando Bouteflika anunciou candidatura à quinta eleição presidencial consecutiva, antes prevista para 18 de abril. Quando os protestos se intensificaram, o então presidente propôs sair do cargo um ano depois das eleições, mas as pessoas continuaram nas ruas até ele desistir de um novo mandato.