Preso em maio de 2017 acusado de ser um dos principais operadores do esquema de interceptações telefônicas clandestinas, o coronel da Polícia Militar, Zaqueu Barbosa, ex-comandante da instituição, confessou pela primeira vez que participou ativamente do esquema operado no governo de Pedro Taques (PSDB) conhecido como “Grampolândia Pantaneira”. Em depoimento ao Ministério Público, ele afirmou que o ex-governador e seu primo, o ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques, tinham conhecimento e financiaram a montagem da estrutura de grampos clandestinos e que se beneficiaram dela na campanha e também durante o primeiro ano de mandato do tucano.
A informação foi divulgada na tarde desta segunda-feira (15) pela TV Centro América, afiliada da Rede Globo, que teve acesso ao depoimento do coronel. Zaqueu, desde que foi preso em 23 de maio de 2017 por determinação do juiz Marcos Faleiros, da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar de Mato Grosso, vinha negando participação no esquema arapongagem contra políticos, jornalistas, médicos e advogados.
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Por outro lado, o cabo da PM, Gérson Luiz Ferreira Corrêa Júnior, também apontado como peça chave, pois agia ao lado e a mando de Zaqueu, já tinha confessado sua participação no esquema durante depoimento prestado numa audiência realizada na madrugada do dia 28 de julho de 2018. À ocasião, ele confirmou que o ex-secretário chefe da Casa Civil, Paulo Taques, primo do ex-governador, arcou com as despesas para viabilizar a central de escutas.
Ele revelou ainda que recebeu de Paulo Taques a quantia de R$ 50 mil para comprar os equipamentos necessários para montar a central de interceptações. Agora, o depoimento de Zaqueu reforça a confissão do cabo Gérson e vai além ao afirmar que o ex-governador também participou e financiou a “Grampolândia Pantaneira”.
O esquema, de acordo com os depoimentos do cabo Gérson e do coronel Zaqueu, começou no final de julho de 2014, no período eleitoral quando Paulo Taques era coordenador da campanha do primo Pedro Taques. Na época, Zaqueu ocupava cargo de destaque na Polícia Militar de Mato Grosso.
Conforme a TVCA, o coronel confirma no depoimento participação do ex-governador Pedro Taques e do primo Paulo Taques que só foi exonerado da chefia da Casa Civil às vésperas do esquema dos grampos clandestinos serem revelados em rede nacional no dia 14 de maio de 2017 em reportagem exibida pelo Fantástico da Rede Globo.
RIVA NO TCE
De acordo com a TVCA, Zaqueu Barbosa disse claramente que Pedro Taques e Paulo Taques não só sabiam da central clandestina de escutas ilegais como ajudaram a montar o esquema ainda durante a campanha eleitoral de 2014. Conforme o coronel, ambos deram dinheiro para construir a central clandestina e usaram informações coletadas durante a campanha, principalmente para espionar adversários políticos.
Depois já eleito governador, Pedro Taques continuava recebendo informações dos telefones grampeados. Como exemplo, a reportagem cita um caso onde dias antes da indicação da ex-secretária de Cultura, Janete Riva, esposa do ex-presidente da Assembleia, José Geraldo Riva, para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), em dezembro de 2014.
Zaqueu relata que o assunto foi informado em um dos telefonemas interceptados e, logo em seguida, ele próprio levou a informação ao então governador eleito. Segundo o militar, Pedro Taques, por sua vez, disse que precisava começar a agir imediatamente para impedir que a nomeação fosse efetivada.
E de fato, a indicação não foi adiante por causa de polêmicas e contestações feitas à época. Em dezembro de 2014 a Justiça barrou a indicação de Janete para a Corte de Contas.
Procurado pela emissora, o ex-governador Pedro Taques disse que é inocente das acusações e vai provar isso na Justiça. Paulo Taques não comentou sobre o teor do depoimento do coronel Zaqueu Barbosa.
Na Justiça de Mato Grosso tramita uma ação criminal na Vara Militar de Cuiabá contra cinco policiais que foram presos nos desdobramentos das investigações, incluindo o coronel Zaqueu Barbosa e o cabo Gérson. Uma audiência está marcada para esta terça-feira (16), a partir das 13h30 para reinterrogatório dos réus.
Nesta segunda-feira, o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia contra Paulo Taques.Ele é acusado de induzir as delegadas Alana Cardoso e Alessandra Saturnino ao erro quando levou a elas denúncias de possíveis ameaças contra o ex-governador.
Paulo ainda mostrou a elas números de quem poderia estar por trás das falsas ameaças o que fez com que uma investigação urgente fosse iniciada, com a realização de escutas no modo “barriga de aluguel”.