O Ministério Público do Estado (MPE-MT) chamou o coronel da Polícia Militar, Evandro Alexandre Ferraz Lesco, de “office boy” do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques. A “ocupação secundária” do oficial da PM foi relatada na manifestação contrária, do MPE-MT, ao perdão judicial solicitado pelo ex-comandante geral da PM, o coronel Zaqueu Barbosa, do cabo PM Gerson Correa, além do próprio Lesco. Eles são réus numa ação que apura o escândalo das interceptações telefônicas ilegais, conhecida como “Grampolândia Pantaneira”.
De acordo com a manifestação, assinada pelo promotor de Justiça em substituição, Allan Sidney do Ó Souza, na última quarta-feira (28), Evandro Lesco teria prestado “auxílio financeiro” para a estruturação de uma central clandestina de interceptações telefônicas. O “escritório dos grampos” operou em Mato Grosso pouco antes da eleição do ex-governador Pedro Taques (PSDB), em 2014, e teria funcionado pelo menos até o fim do primeiro ano de sua gestão à frente do Estado, em 2015.
O cabo PM Gerson Correa – apontado como o principal operador da central, e que teve trechos de seus depoimentos à Justiça transcritos na manifestação do MPE-MT -, relatou que o coronel Evandro Lesco chegou a pagar do próprio bolso dois alugueis de uma sala comercial, em Cuiabá, utilizada nas interceptações. Além disso, conforme a ,manifestação do MPE-MT, o coronel PM também teria recebido das mãos de Paulo Taques (primo do ex-governador Pedro Taques), em agosto de 2014, R$ 50 mil em dinheiro para viabilizar a central de grampos.
O objetivo do grupo, de acordo com o depoimento do cabo Gerson Correa, era a realização de uma “espionagem” não só contra adversários políticos, como também aliados, de forma a viabilizar a eleição do então candidato ao Governo, Pedro Taques, em 2014. Ele venceu a disputa naquele ano ainda no 1º turno. A fraude teria contado ainda com a participação do ex-comandante geral da PM no Estado, Zaqueu Barbosa, apontado como o “líder” dos PMs no esquema criminoso.
“Restou mais claro do que a luz solar, a condição de líder e mentor do increpado CEL PM RR Zaqueu Barbosa, Subchefe de Estado-Maior Geral, à época, em concurso com o codenunciado CEL PM Evandro Alexandre Ferraz Lesco, o qual, além prestar auxílio financeiro inicial para a alocação física do núcleo […] bem como serviu de ‘office boy’, ao ser responsável por receber em mãos, a vultuosa quantia em dinheiro entregue por outro financiador da empreitada, o senhor Paulo Zamar Taques”, diz trecho da manifestação.
”BENEVOLÊNCIA” DOS PMs
O promotor Allan Sidney do Ó Souza também “ironizou” os pedidos de reinterrogatórios dos PMs Zaqueu Barbosa, Evandro Lesco e Gerson Correa. Segundo o membro do MPE-MT, os fatos narrados nos novos depoimentos já se encontravam “exaustivamente comprovados”, e aproveitou para alfinetar o Poder Judiciário Estadual que, em sua avaliação, não precisava de “tal benevolência dos infratores”.
“Os novos interrogatórios, ao menos no que tange aos crimes objetos da ação penal (que é o que aqui importa, afinal), se limitam a confessar os fatos narrados na denúncia que, por sua vez, já se encontravam exaustivamente comprovados, sem a necessidade de tal benevolência dos infratores, que, pelo contrário, desde o início das investigações se furtaram a todo tempo do esclarecimento da verdade, chegando a apresentar 04 (quatro) versões diferentes sobre um mesmo fato, como foi o caso do acusado CB PM Gerson Luiz Ferreira Correa Junior”.
Em sua manifestação, o MPE-MT negou o perdão judicial ao trio de acusados, bem como a redução da pena. O órgão ministerial estabeleceu apenas a atenuante da “confissão espontânea”. A decisão, porém, será do Poder Judiciário Estadual. Também são réus na ação o coronel PM Ronelson Jorge de Barros e o tenente-coronel PM Januário Antônio Edwiges Batista.
GRAMPOLÂNDIA
Os grampos ilegais tornaram-se públicos após a veiculação de duas reportagens do Fantástico. Jornalistas, médicos, advogados, políticos e até uma ex-amante do ex-secretário da Casa Civil, Paulo Taques (primo do ex-governador Pedro Taques) sofreram interceptações telefônicas clandestinas que teriam sido feitas por policiais militares. O caso é conhecido como “barriga de aluguel”, onde pessoas que não são investigadas ou denunciadas sofrem os grampos, por interesses pessoais, ao lado dos verdadeiros suspeitos de investigações policiais.
Além de Zaqueu Barbosa – preso 9 dias após a veiculação da reportagem no Fantástico, que foi ao ar em 14 de maio de 2017 -, o cabo PM Gerson Luiz Ferreira, acusado de ser o operador da central clandestina, também teve mandado de prisão cumprido. Ambos já se encontram em liberdade.