É um ponto de convergência de muitos fatos que acabam se conectando de algum modo. Estou falando do contrato de adesão para a construção, implantação e exploração da 1° ferrovia estadual de Mato Grosso. A assinatura e respectiva construção da ferrovia são um marco para a história de Mato Grosso e um exemplo para os estados brasileiros. Foi assinado ontem pelo governador Mauro Mendes e a Rumo, concessionária da ferrovia de mesmo nome entre Rondonópolis e a malha ferroviária paulista até o porto de Santos. É uma história antiga que entra na sua fase final, mesmo não concluída ainda.
Escrevo este artigo com os olhos no passado distante, no passado recente, no presente e no futuro. A ideia de uma ferrovia até Cuiabá data do fim do século 19. A guerra do Paraguai a desviou pra Corumbá, a partir de Campo Grande. Iniciou-se aí a briga entre Campo Grande e Cuiabá que resultou na divisão do Estado em 1977. Em 1976 o deputado federal de Mato Groso Vicente Vuolo levantou novamente a tese da ferrovia e conseguiu incluí-la no Plano Nacional de Viação, na vigência do governo do General Ernesto Geisel. Emperrou na ponte sobre o rio Paraná, porque dinheiro público todo mundo sabe como é. Finalmente, depois de mudar de concessão três vezes chegou a Rondonópolis em 2012 e emperrou.
Agora vem a concessão para a mesma Rumo desta vez no trecho de 730 km até Lucas do Rio Verde. Vão ser investidos R$ 11 bilhões, e deverá gerar algo como 230 mil empregos durante a construção. Espera-se que a conclusão deverá durar 10 anos. Ainda que fora o entusiasmo do governo estadual, da empresa Rumo e da agropecuária, mais uns poucos setores, a sociedade de Mato Grosso é indiferente e pouco se entusiasma. A falta de percepção das possibilidades de futuro das próximas gerações num mundo profundamente disruptivo dos próximos anos é de fazer dó. Especialmente as populações urbanas afogadas nas banalidades das suas redes sociais.
Em 10 anos espera-se que a produção agropecuária de Mato Grosso alcance 130 milhões de toneladas. Vai aqui um número pra comparação. Em 2010 toda a produção agrícola brasileira foi de 149,5 milhões de toneladas. Em 2010 o mundo não se ligava na questão da segurança alimentar mundial. Hoje é preocupação de ponta de todos os países. Em 2030 o Brasil deverá responder por 40% do suprimento de alimentos do mundo.
Essa montanha de comida vai precisar circular de algum modo. As ferrovias serão indispensáveis. Até porque grande parte dessa produção será processada no Estado, agregará valor e terá que circular num território muito rico. Lembrando que esse conceito de segurança alimentar significará o aporte de elevadíssimos investimentos internacionais na contrapartida de garantia de comida e derivados processados.
Estamos falando de um futuro de 10 anos e seguintes, onde Mato Grosso e o Centro-Oeste brasileiro serão de certa forma o coração do mundo. Alta produção, altas tecnologias, sustentabilidade, recursos humanos de qualidade, imensa interação internacional de exportações e importações, referência mundial.
Por isso o ponto de inflexão na data de ontem, 20 de setembro de 2021. Há muito o que se pensar a partir daí, longe das ideologias burras e da simplificação de raciocínios rasos. Voltarei ao assunto amanhã.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso – onofreribeiro@onofreribeiro.com.br www.onofreribeiro.com.br