Só para dar uma passagem pela linda história de Cuiabá, vamos relatar o que é o Siriri e o Cururu, de um modo mais simples e de acordo com as nossas vivências e observações pessoais:
O Siriri é dançado e cantado por homens e mulheres, sendo também bastante apreciado pelas crianças, era festa de terreiro que varava noite e ia até o dia clarear, tendo em suas cantigas versos com palavreados dos cantos simples e repetitivos, fácil para decorar. Já a animada dança tinha a sua formação em roda, depois passava pela formação em fileiras, onde os dançarinos batiam as palmas das mãos entre os componentes das fileiras opostas e cantando em voz alta seguia em ritmo alegres e vibrantes, cantada em ritmos frenéticos, e a vestimentas de pano simples, mas bem coloridas (antigamente era usada a própria roupa da festa).
Já os instrumentos na sua forma mais rude são compostos de: Viola de Cocho, Ganzá e um Mocho (banco de madeira com quatro pernas e revestido de couro de boi ou veado) e os cantadores com ritmos fortes, seguia na mesma toada dos componentes da dança, só que o ritmo é mais rápido do que as cantigas do Cururu, e iam formando quadras com cantiga em versos sobre amores, a natureza, os costumes regionais e fatos políticos.
Por outro lado, o Cururu é composto de músicas e danças executadas apenas por homens em forma de roda, não há participação de mulheres ou crianças, onde os tocadores de Viola de Cocho balança de um lado para outro, dentro da roda, folgando dentro da roda em passos iguais, (sem encostar uns nos outros), e assentando ora o pé esquerdo, ora o pé direito e finalmente batendo os dois pés em forma de dança até quase a ajoelhar-se, e durante a dança as violas quase chegam a tocar uma viola na outra.
A concentração dos cururueiros, dos grupos de cantiga e a própria dança era realizada no terreiro próximo a casa da festa, é o lugar onde os cantadores soltavam suas vozes fortes que chegava até a engrossar as veias do pescoço. Eram toadas tradicionais e os refrãos eram feitos de improvisações criativas dos cantadores, com temas de amor, religião e causos inventados na hora.
Tanto o Siriri como o Cururu, faz parte das danças tradicionais dos Ribeirinhos e dos Pantaneiros, e fazem parte da tradição das pessoas humildes que reúnem nas fazendas e nos lugarejos para realizar festas populares e religiosas.
Sempre após as rezas aos Santos Festeiros, começava o momento mais alto da festa, com as apresentações das danças de siriri e cantigas dos cururueiros varando a noite e a alegria era regada com uma boa pinga (com raiz de bugre e nó de cachorro) e essa alegria da festa entrava pelas matas adentro quebrando o silêncio da noite, o som das vozes forte dos cururueiros eram ouvidas a longa distância e acordava a vizinhança, e a festa seguia até o dia clarear.
Tudo que se relaciona com a cultura cuiabana, está intimamente ligado às cidades que têm história comum com a cuiabanidade: Várzea Grande; Santo Antônio do Leverger; Barão de Melgaço; Nossa Senhora do Livramento; Poconé; Cáceres; Rosário Oeste; Diamantino e outras. Essas cidades mais antigas têm a mesma formação cultural de Cuiabá, toda a culinária e costumes são praticamente iguais.
A cultura das danças de Siriri e cantigas de Cururu estão espalhadas nas redondezas dessas cidades, fazem parte das festas das fazendas e lugarejos, onde se formavam grupos que preservavam nos seus conhecimentos pessoais e eram passados de pai para filho, que vai desde a confecção das Violas de Cochos, Ganzás, Mocho. Preservando também o jeito de cantar e dançar; impressionante é que essa cultura já demanda dois séculos e meio, e apesar dos meios de comunicações precários (em épocas passadas) essa cultura foi preservada por todas as cidades circunvizinhas de Cuiabá.
O Cururu e o Siriri, fazem parte da nossa cultura, e essas manifestações, veem lá dos nossos ancestrais, e com as cantigas fortes e ao som da viola de cocho; ganzá e mocho, (que são instrumentos rústicos), são manifestações fortes e por isso sobreviveram por séculos e fazem parte das nossas atividades culturais, e através dos abnegados e amantes do maior Ícone da nossa cultura, sempre terão o nosso reconhecimento, pois com as suas parcelas de contribuição, fizeram perpetuar entre nós cuiabanos: o Cururu e o Siriri.
Econ. Wilson Carlos Soares Fuáh – É Especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas. Fale com o Autor: wilsonfua@gmail.com